A aromatização da ferrovia é/foi a resposta à tendência atual do marketing sensorial, que apela aos sentidos e emoções, comunicando sofisticação, beleza, discursos inovadores e bem-estar da população em geral.
Há que dar os parabéns a quem nos pôs a todos, agentes, técnicos, operadores, clientes, exportadores, leigos e políticos a falar de ferrovia. Hoje, as primeiras perceções são fundamentais para que todos acreditem, e quando vemos, ou percecionamos que algo afinal vai acontecer, todos nós nos entusiasmamos e até acreditamos que, afinal, agora é que é.
Mas, afinal, não é.
E não é apenas porque achamos que vai ser.
Acordamos e PUMBA – demite-se o Ministro e o Secretário de Estado – ou seja, quem nos encantou este tempo todo com a verdadeira possibilidade de virmos a ter menos congestionamentos terrestres e mais sustentabilidade, mais carga em comboios, mais comboios nas linhas, mais comboios nos terminais e mais terminais para carregar mais comboios – e, PUMBA – ficamos a saber que a linha da Beira Alta vai estar fechada até final do ano de 2023. Ora, como é ferrovia já sabemos que vai atrasar ainda mais, logo, menos alternativas para colocar as nossas cargas lá fora e menos alternativas para as empresas exportadoras nacionais, menos aposta na intermodalidade e em “modal-Shift” – e nós nisto quando – PUMBA – recebemos a novidade que o Porto Sines vai cobrar mais uma “portagem” (158€) aos comboios (mais ou menos o equivalente ao transporte de dois contentores num comboio), desta vez pela efetiva realização do dito, em vez do pagamento apenas pela intenção do uso. Sim, porque o comboio paga pela simples intenção, pois quando solicita canais horários anuais já está a ser cobrado antes da realização dos comboios. [Parece que também vai haver (????) para outros modos de transporte terrestres – parece]. Ora conseguir realizar comboios competitivos não é fácil, os equipamentos de via, os materiais utilizados, os meios tratores e os meios rebocados, para além de dispendiosos rareiam e quando procuramos mais meios para poder dar mais respostas – PUMBA – lá vem novamente a conversa da bitola. Imaginemos quanto custava mudar toda a rede e todos os meios e equipamentos de bitola ibérica em bitola UIC, porque bitola europeia, ainda é outra coisa, e – PUMBA – mais uma vez. O terminal rodo ferroviário de Badajoz está terminado desde esta semana e em bitola ibérica, provavelmente para servir os Portos espanhóis em vez dos portugueses como até aqui.
…já temos novos responsáveis políticos e apenas temos de acreditar que continuarão a espalhar o “perfume” da ferrovia, não porque seja um “fetiche” mas por ser o que todos ansiamos em nome de uma politica de transportes mais sustentável.
Devem ter percebido que estou a falar de transporte de mercadorias. A rede espanhola de mercadorias é em bitola ibérica e se temos bitola ibérica entre Portugal e Espanha e se cerca de 60% das nossas exportações são para Espanha, devíamos fazer o exercício, primeiro, de perceber por que não há mais quota de mercado da ferrovia na Península Ibérica.
E PUMBA, já temos novos responsáveis políticos e apenas temos de acreditar que continuarão a espalhar o “perfume” da ferrovia, não porque seja um “fetiche” mas por ser o que todos ansiamos em nome de uma politica de transportes mais sustentável.
Cooperar em vez de competir ou coopetir na cadeia de abastecimentos em vez de apenas se fazerem quilómetros, será seguramente a melhor forma de alargar hinterlands, trabalhar em inovação, ser mais racional ao invés de mais emotivo e, acima de tudo, esperar que os “aromas” que fomos experimentando se manterão como um desígnio nacional.
ANTÓNIO NABO MARTINS
Especialista em ferrovia
Assim “anda” a nossa ferrovia sem objetivos e sem ambição se sermos diferentes ao fim de tantos anos de estagnação.
Os sucessivos governos nada fizeram para aprender com os técnicos ou mesmo só ouvir os mesmos e assim melhorar.
O que hoje é penoso poderia ser suavizado e com sinergias chegaríamos a todas as estações competitivos e não totalmente esfarrapados.
O plano ferroviário deveria ter sido publicado à décadas e a linha de alfa velocidade (não alta porque chega a velocidade dos alfa pendulares para fazer a diferença) construida em tempos de RAVE, quando foi projectada.
Estamos a perder anos, financiamentos e quem queira apostar no nosso belo pais.
O pais dos carris por fazer.
Assim “anda” a nossa ferrovia sem objetivos e sem ambição se sermos diferentes ao fim de tantos anos de estagnação.
Os sucessivos governos nada fizeram para aprender com os técnicos ou mesmo só ouvir os mesmos e assim melhorar.
O que hoje é penoso poderia ser suavizado e com sinergias chegaríamos a todas as estações competitivos e não totalmente esfarrapados.
O plano ferroviário deveria ter sido publicado à décadas e a linha de alfa velocidade (não alta porque chega a velocidade dos alfa pendulares para fazer a diferença) construida em tempos de RAVE, quando foi projectada.
Estamos a perder anos, financiamentos e quem queira apostar no nosso belo pais.
Coloca questões pertinentes. Não tendo estado ligado profissionalmente ao setor exportador, sou leitor do INE. Dados de 2021: exportações para Espanha por ferrovia 0,131 milhões de toneladas (1,24% do total exportado para Espanha por ferrovia e rodovia).
Exportações por ferro e rodovia para Espanha: 10,65 Mton (65,4%) 14650 M€ (39,7%)
exportações por ferro e rodovia para o resto da UE : 5,56 Mton (34,6%) 22270 M€ (60,3%)
Estimativa por ferro e rodovia para 2022 com base em números até outubro 2022:
Exp. p/Esp: 14 Mton (53,8%) 21000 M€ (37,5%)
Exp.p/resto Europa 12 Mton (46,2%) 35000 M€ (62,5%)
Isto é, é necessário aumentar a quota da ferrovia, nomeadamente com recurso ao transporte de semirreboques por comboio o que exige trabalho preparatório extenso, mas também, para além de manter a rede ibérica luso-espanhola, seguir o exemplo de Espanha nas ligações em bitola UIC da plataforma de Vitoria e do corredor mediterrânico dado o crescente valor das exportações portuguesas para o resto da Europa, o que não consta do PFN.
O Tráfego ferroviário ibérico, ou seja, comboios de mercadorias atualmente, no passado e no futuro é para se fazer na bitola ibérica de 1668 mm. A bitola UIC Standard só tem interesse para comboios de mercadorias e pax, procedentes ou se destinam a Portugal, que vão para França e além, assim como os que daqui procedem. Se o tráfego Portugal / Espanha ainda é diminuto, é é, porque não somos competentes para fazer melhor. Estamos ainda muito atrasados.
Gostava de saber como vão ser transportadas mercadorias para lá dos Pirenéus uma vez não tem bitola ibérica. Fazem transbordo ? Onde.
Esta relutância em criar em Portugal uma rede ferroviária de bitola UIC (em complemento da rede de bitola Ibérica existente), para nos ligar à Europa além-Pirenéus, é deprimente. Assim, não vamos lá…