“A única coisa que podemos ter certeza é a incerteza”
Desde logo, no plano internacional: o prolongamento (até quando??) dos conflitos na Ucrânia e Médio Oriente, a colocarem pressão em muitas cadeias de abastecimento e produtos em particular na componente alimentar e energética. Os recentes episódios no Mar Vermelho, implicando risco na navegação marítima, conduzem a um incremento quer dos custos de fretes, quer dos transit times para as mercadorias (cerca de 20% do trade internacional utiliza esta rota). Mesmo para um 1º trimestre por regra com menos pressão na componente compras e stocks, o efeito será evidente em muitas categorias de produtos. Sublinhava que o regresso à normalidade nestes processos/fluxos tem um delay na recuperação que pode durar meses…
-O controlo da inflação, que era quase uma certeza para 2024, corre o risco de ser influenciado por estas ocorrências caso a sua escalada seja uma realidade nos próximos meses. As implicações na desejada recuperação económica são uma incógnita aos dias de hoje…
O conjunto de atos eleitorais em países chaves para o bloco europeu e Portugal em particular, com destaque para o de maior impacto – USA, deixa no ar a incerteza do reforço do protecionismo entre estados ou blocos económicos, o que constitui também um risco e uma incerteza para a economia portuguesa, fortemente dependente das exportações.
Nunca como hoje o valor da formação e educação se tornou tão decisivo para a sociedade e para o País como um todo.
Relacionado com este clima de instabilidade, estão as cotações das matérias-primas que em alguns casos condicionam a competitividade das empresas portuguesas com impacto nas cadeias de abastecimento.
Em termos nacionais, desejaríamos obter uma certeza resultante do próximo ato eleitoral; uma solução governativa estável e duradoura que permita a tomada de decisões com horizonte temporal alargado em áreas que o País tanto carece.
Uma quase certeza – salvo as perturbações externas referidas, a inflação tende a regressar a valores mais aceitáveis.
Expectativas com alguma incerteza:
– Uma rápida concretização das iniciativas no âmbito do PRR, não pelo efeito direto na Logística (reduzido) mas pelo contributo que dará ao crescimento económico.
– A conclusão das obras do plano ferroviário, críticas para a componente passageiros e em particular para as mercadorias, ligação aos portos e a Espanha.
– A decisão (já tardia…) sobre o novo aeroporto de Lisboa que permita a todos os agentes económicos e ao Pais saber com o que contar em relação a um projeto que moldará investimentos públicos e privados elevados.
– Uma avaliação ponderada da Sustentabilidade versus Competitividade; refiro-me em particular à descarbonização, que tem na Logística e Transportes um enorme potencial de transformação. A fiscalidade verde e os apoios à renovação de frotas e ativos serão instrumentos essenciais para que a competitividade se mantenha ou, desejavelmente, incremente.
– Uma verdadeira desburocratização – simplificando, agilizando com mais eficiência e transparência; desde os projetos de imobiliário logístico, ao regime dos bens em circulação, são inúmeros os desafios nesta matéria. O investimento nacional e estrangeiro só pode ser atraído ou retido com sinais claros neste esforço. Falamos de aumentos de produtividade e razão de ser da digitalização, permitindo que esta seja consequente nos processos e requisitos legais, tornando-os mais ágeis e transparentes.
– A necessidade de olhar de uma forma integrada e consistente para a Logística Urbana, envolvendo todos os atores / intervenientes / autoridades e reguladores por forma a garantir uma “última milha” mais eficiente e sustentável.
Certezas:
A necessidade da logística, empresas e operadores investirem em robótica, automação e inteligência artificial – única forma não só de garantirmos aumentos de produtividade e competitividade, mas também de fazer face aos desafios demográficos e de elevar os padrões de qualidade de serviço ao cliente final.
Uma certeza final:
Só teremos sucesso neste mar de incertezas, com empresas sustentáveis e profissionais competentes e capacitados! Nunca como hoje o valor da formação e educação se tornou tão decisivo para a sociedade e para o País como um todo.
RAUL MAGALHÃES
Presidente da APLOG