Experiência recente trouxe-me à memória um trabalho que realizei no âmbito das minhas funções na empresa á qual me encontro ligado há cerca de 27 anos, a administração que tem responsabilidades na gestão do Porto de Sines e, desde há poucos anos, também dos portos do Algarve.
A experiência tem a ver com a realização da Kick-off Conference e das reuniões da Agenda NEXUS, nas quais participei. A memória leva-me a um trabalho interessante realizado para conhecimento aprofundado das componentes da Fatura Portuária, que me levou a reuniões com os principais importadores e exportadores pelo Porto de Sines.
E tudo isto porque, reconhecida a riqueza do desafio que se nos coloca na concretização da Agenda NEXUS, recorrentemente, os especialistas que participam no Comité Técnico foram colocando como prioridade para o sucesso deste magnifico projeto preocupações que devem ser tidas em conta sobre os benefícios daí decorrentes para a carga, a importância de se envolverem os donos da carga, a pertinência do just in time e o benefício para o transit time associado ao transporte de mercadorias, por via marítima.
Julgo que foi muito pertinente e enriquecedora a participação destes peritos, com larga experiência internacional no transporte marítimo, na operação portuária e nos requisitos de fluidez dos corredores logísticos.
O sucesso de qualquer processo que incida sobre a melhoria e a eficiência de um corredor logístico, visto na sua forma alongada de porta-a-porta, não pode perder de vista os previsíveis benefícios para a carga.
Realça-se a bondade da aposta da Administração dos Portos de Sines e do Algarve em promover e liderar um consórcio de 35 entidades, que se propõe, até 2025, promover soluções ligadas a uma desejada transição digital e ecológica do setor dos transportes e da logística, desenvolvendo 28 produtos, num investimento de cerca de 91 milhões de euros. Agenda que centra as suas preocupações na necessária transição energética como grande contributo para a sustentabilidade ambiental, alicerçada num processo de digitalização e descarbonização, com poupança de recursos e promovendo a autossuficiência. Mas torna-se imperativo esse olhar avisado, que nos alerta para a principal função que justifica a existência dos portos. Afinal, um porto justifica-se por ser um local preparado para receber o navio, que por sua vez encontra razão pela necessidade de transportar carga/mercadoria por via marítima ou fluvial.
Logo, é fácil entender que qualquer projeto que se pretenda desenvolver, terá de associar um benefício esperado para a carga a movimentar e, consequentemente, para o carregador. Benefícios que, a nosso ver, não só poderão advir do preço a cobrar pelo transporte da carga, como também associando qualidade no serviço a prestar e fiabilidade na cadeia de transporte. Sempre foi uma máxima pretender-se ter o melhor preço, o sítio certo e a hora acordada, com a qualidade desejada pela prestação do serviço.
O sucesso de qualquer processo que incida sobre a melhoria e a eficiência de um corredor logístico, visto na sua forma alongada de porta-a-porta, não pode perder de vista os previsíveis benefícios para a carga. E neste caso, quem melhor pode equacionar os ganhos que daí advêm? Os donos da carga, sem dúvida. Daí a necessidade de se envolverem em projetos que tenham, mesmo, em conta a agilização e a qualidade dos serviços prestado pelos portos.
Bem sabemos que, hoje mais do que nunca, são os Armadores e as grandes linhas de navegação que impõem as suas regras e dominam, em certos casos, toda a cadeia logística. A fileira de negócio verticalizou-se, e hoje já não espanta que empresas do mesmo grupo estejam no transporte marítimo, na operação portuária, em toda a cadeia intermodal por terra, enfim, prestando um serviço completo que, infelizmente, pelos resultados, traz um domínio exagerado e um prejuízo nos serviços prestados à carga e às necessidades dos carregadores.
Mesmo assim, somos dos que valorizam a voz dos carregadores. São eles que produzem a matéria que justifica o transporte, a movimentação e todo o cuidado a ter na oferta de uma cadeia logística, que se pretende cada vez mais eficiente e sustentável.
N.R. Artigo publicado originalmente no “Jornal de Negócios”.
JOSÉ ANTÓNIO CONTRADANÇAS
Economista (ex-Administrador Portuário)