Durante décadas de consumo desenfreado, os clientes particulares e até profissionais da indústria automóvel foram sendo gradualmente convencidos de que os veículos eram uma espécie de produto descartável, com um prazo de validade certo, definido no momento da compra.
Eram – e ainda são – propaladas teorias quase científicas de que os automóveis ao fim de 3 a 4 anos perdiam todo o seu valor, pelo que importava substituí-los rapidamente para “não perder dinheiro”. Estas teses que, entre outras premissas, esqueciam que a maior fatia desse valor se perdia no dia do primeiro averbamento e não nos anos subsequentes, alimentaram uma florescente indústria automóvel e uma lucrativa engenharia financeira, que artificializava necessidades, induzia o consumo e desrespeitava olimpicamente o ambiente e uma gestão comedida dos recursos que, agora nos apercebemos, são limitados.
O equilíbrio e a sustentabilidade, nas suas diversas vertentes, devem nortear a conduta de todos nós, nomeadamente, enquanto consumidores. E quando são os supostos prejudicados que nos apontam o caminho a seguir podemos, efectivamente, estar a caminhar para uma mudança de paradigma, em benefício de todos.
Ora, fruto de uma mudança quase traumática das conjunturas política, social, económica e ecológica, tudo indica que este paradigma está a mudar. Com efeito, depois de algumas marcas começarem a oferecer serviços de “recondicionamento automóvel”, com o objectivo de restituir a frescura mecânica e estética a automóveis usados em estado funcional, o exemplo veio, precisamente, de um construtor premium, com a Directora de Sustentabilidade da BMW a afirmar, num recente evento em Londres, que a indústria automóvel podia reduzir o desperdício se encorajasse os clientes a manter os seus veículos durante um maior número de anos, não adquirindo carros novos, aconselhando os Clientes da marca a manter o uso dos automóveis durante mais tempo.
É certo que se trata de uma evidência – assente, desde logo, na verdade absolutamente insofismável de que manter um veículo em uso fica mais barato e gasta muito menos energia do que produzir um novo –, mas não deixa de ser uma posição corajosa e intelectualmente honesta, que pode alterar de forma decisiva a maneira como nos relacionamos com objectos de consumo de elevado impacto ambiental, como são os automóveis.
Não faz qualquer sentido, ainda que se anestesiem os custos de aquisição com uma renda quase vitalícia, alimentar a voracidade de um mercado, à custa da viabilidade global de um sistema. O equilíbrio e a sustentabilidade, nas suas diversas vertentes, devem nortear a conduta de todos nós, nomeadamente, enquanto consumidores. E quando são os supostos prejudicados que nos apontam o caminho a seguir podemos, efectivamente, estar a caminhar para uma mudança de paradigma, em benefício de todos.
Advogado na JPAB Advogados
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