São ambos dois excelentes filmes, que se recomendam, o primeiro de 1977, por isso um clássico, e o outro de 2001, ambos sobre acontecimentos durante a Segunda Guerra Mundial. Mas não é sobre estes filmes que vos venho falar, mas sim sobre aplicar os nomes dos mesmos aos nossos “amigos” contentores, pois seria mais do que justificado.
Não sei se já deram por isso, mas os nossos “amigos” contentores têm sido “escorraçados” de tudo quanto é sítio.
Em Lisboa, na Bobadela tem sido um “extermínio” total, com o encerramento dos parques aí existentes, parcialmente agora e totalmente, ou quase, no futuro próximo. E tomando como exemplo o filme “A Viagem dos Malditos”, também ninguém parece querer recebê-los em lado nenhum (agora devo ter despertado o vosso interesse no filme… vale a pena ver e aprender um pouco sobre história e o conceito de des/humanidade).
As câmaras dos vários municípios que circundam o Porto de Lisboa parecem não querer nem ouvir falar em parques de contentores, não aceitando que os mesmos se instalem a distâncias aceitáveis do porto e centralizados em relação às áreas de atividades logísticas que servem o mesmo, as quais se mantêm dispersas por várias localizações, qual baldio logístico desorganizado, não obstante algumas zonas de concentração. Mas isso é outro “filme”.
Estes “nossos” autarcas (“nossos” apenas porque são portugueses) parecem considerar os contentores como um “Inimigo às Portas” dos seus municípios, e que a eventual instalação de parques para os mesmos nas suas áreas possa trazer-lhes dissabores nas próximas eleições. Pois como bem sabemos, e aprendemos ao longo dos anos de vida, neste país, do qual os municípios fazem parte, as decisões tomam-se com base no impacto eleitoral que possam vir a ter, e não com base no interesse económico de uma região ou do país. Se assim acontecer, então, ainda melhor, mas é habitualmente coincidência.
Esquecem-se certamente que os contentores são o grande motor da economia Mundial, pelo menos como a conhecemos atualmente, e que sem eles um país como o nosso teria sérias dificuldades económicas.
Talvez desconheçam que os contentores têm um ciclo de utilização que é fundamental para a sua boa utilização.
Será bom rever o mesmo para o caso de algum autarca ler este artigo e assim aumentar um pouco o seu conhecimento/cultura geral logística. As minhas desculpas aos que já sabem disto.
Quando um contentor é descarregado, cheio, num terminal de contentores, fica no terminal a aguardar o levantamento pelo recebedor da carga, sendo então transportado por via rodoviária (ou mesmo numa operação de transporte rodo-ferroviária) para o seu destino final, sendo aí “desconsolidada” (descarregada) a carga do seu interior, ficando o contentor vazio.
Ora este contentor vazio (salvas raras exceções) tem de ser encaminhado para um parque de contentores vazios (também vulgarmente chamado de 2ª linha), dando entrada no mesmo, sendo descarregado do camião que o transporta e colocado no chão onde várias operações ocorrem.
A movimentação dos contentores em parque (entrada e saída), a sua lavagem e reparação, assim como a sua armazenagem, são serviços de interesse económico para o país, e financeiro para as empresas que os realizam, dando emprego e contribuindo positivamente para a nossa economia.
O equipamento é vistoriado, a fim de ser detetada alguma avaria que apresente e necessite de reparação, é varrido, lavado e, eventualmente reparado, a fim de ficar pronto e a aguardar uma nova utilização, havendo lugar a vários manuseamentos do mesmo durante toda esta operação.
Se houver carga para o mesmo, será levantado vazio, por outro camião e noutra altura, que o levará ao carregador, que colocará a carga de exportação no seu interior (consolidação) e depois será então transportado para o terminal onde ficará a aguardar o seu embarque.
Em algumas situações de desequilíbrio entre fluxos de carga à importação e exportação, pode ser transportado vazio para o cais, aguardando aí o seu embarque até um determinado destino, em que o desequilíbrio seja oposto e ele seja aí necessário.
Ora, todas estas operações que se realizam nos tais parques de contentores são serviços que se prestam e normalmente representam uma exportação dos mesmos, quando realizados para empresas armadoras estrangeiras.
A movimentação dos contentores em parque (entrada e saída), a sua lavagem e reparação, assim como a sua armazenagem, são serviços de interesse económico para o país, e financeiro para as empresas que os realizam, dando emprego e contribuindo positivamente para a nossa economia.
Quando se obriga a deslocalizar estes parques de contentores para zonas distantes dos locais onde estão concentradas as operações de carga e descarga dos mesmos, leia-se os terminais de contentores e as zonas de atividades logísticas (armazéns e centros de distribuição/logísticos) que os apoiam e servem o país, está-se a obrigar a maiores deslocações deste equipamento, o qual é realizado maioritariamente por via rodoviária, tendo dois tipos de impactos negativos diretos.
O primeiro, e mais importante, nos custos ambientais que geram, pois, maiores distâncias a percorrer implicam maiores consumos de combustível e por isso maiores emissões de CO2, já para não falar de todos os outros custos externos marginais, os quais desde que se fala no CO2 parecem ter-se evaporado, mas continuam lá (congestionamento, acidentes, etc.).
O segundo, e não menos importante é o custo do transporte em si, pois maiores distâncias implicam maiores custos diretos de transporte, ligados ao maior tempo que os mesmos demoram, originando menor número de viagens que cada camião pode fazer por dia, e maiores custos de combustível ligados ao aumento do seu consumo.
Já sabem quem vai pagar. Certo?
Não parece correto quando todos os operadores de transportes e logísticos se batem constantemente por encontrar as melhores e mais económicas soluções, que depois, por falta de planeamento e decisões acertadas, alguém deita todo este trabalho a perder.
Tudo isto parece lógico, mas pelos vistos não é, pois não se vê/sabe se alguém a nível dos nossos responsáveis governativos, centrais ou municipais, está preocupado com o problema, ou apenas se irão preocupar quando estivermos perante uma séria crise de aumento de custos de transporte e eventual estrangulamento dos fluxos de carga contentorizada.
Aliás, esta sensação de irresponsabilidade não é novidade, a partir do momento em que se assiste à decisão do encerramento do terminal ferroviário da Bobadela e dos parques de contentores ali existentes, sem apontar uma solução alternativa. O que demonstra apenas a enorme irresponsabilidade de quem a deveria ter, transformando esta situação num autêntico filme de terror para quem trabalha nesta área.
Entretanto, vamos aguardando as sequelas deste “filme”.
JOÃO SOARES
Excelente visão e explicação do fluxo e tratamento dos contentores.
João: assino por baixo e sublinho.
Temos um país de decisores alegadamente ignorantes neste e noutros assuntos ou que nos querem fazer passar por tolos.