Dez anos volvidos sobre a inauguração, no aeroporto de Beja apenas a manutenção de aeronaves conheceu, nos últimos tempos, algum desenvolvimento.
Foi a 13 de Abril de 2011 que se realizou o primeiro voo à partida do aeroporto de Beja, depois de um investimento de 33 milhões de euros na adaptação da Base Aérea n.º 11. As expectativas eram, então, grandes e não se concretizaram. Mas nem por isso os alentejanos desistem do seu aeroporto.
Ao fim de 10 anos, o aeroporto de Beja está mais consolidado na vertente industrial, assente na manutenção e estacionamento de aeronaves, segundo o município e empresários locais, que reclamam tempo para “voos mais altos” da infra-estrutura.
“O aeroporto já começou a ser utilizado para uma das valências identificadas” pelo grupo de estudos que definiu o potencial da infra-estrutura, disse à “Lusa” o presidente da Câmara de Beja, Paulo Arsénio, aludindo à componente industrial.
Para o autarca, esta “é uma prova de que o aeroporto é útil e faz sentido no território”, onde “cria emprego qualificado”. E, acrescenta, “lateralmente, pode ter uma atractividade que ainda não conseguiu desenvolver em pleno, mas que está a começar a desenvolver, ao fim de 10 anos” de existência.
“São empregos remunerados acima da média e altamente qualificados, que fixam pessoas no território e passam a ser contribuintes líquidos. E até podem desenvolver-se pequenas indústrias laterais. Agora, isto demora algum tempo, não é da noite para o dia”, argumenta Paulo Arsénio.
Para o presidente da Associação Empresarial do Baixo Alentejo e Litoral (AEBAL), Filipe Pombeiro, “não se fazem balanços de aeroportos a 10 anos”. São equipamentos que precisam de tempo para se afirmarem.
Mas, sem dúvidas, indica que a indústria “tem sido a área em que o aeroporto tem seguido o seu caminho de forma mais efetiva”.
“O negócio de estacionamento está consolidado, tal como o de manutenção, que já era de aeronaves em linha e, agora, também é feito em hangar pela Mesa”, a qual, além disso, pretende investir “num centro logístico”, realça o representante dos empresários.
A componente industrial “tem vindo a consolidar-se” e tem suscitado “muita procura, portanto, quando o aeroporto passar do estado da ‘infância’ para o da ‘adolescência’, com certeza que o ‘cluster’ aeronáutico industrial passará por Beja”, argumenta.
Contactada pela “Lusa”, a ANA – Aeroportos de Portugal, responsável pelo aeroporto de Beja, também destaca a área industrial e alude ao novo hangar de manutenção da Mesa.
“É um bom exemplo do resultado da estratégia de desenvolvimento seguida e o reconhecimento das potencialidades” do aeroporto “na vertente industrial, gerando postos de trabalho na região”, salienta a empresa.
A ANA afirma que “dirigiu o posicionamento da infra-estrutura para a captação de outras actividades aeronáuticas, com elevada relevância no sector, como as actividades de natureza industrial, nomeadamente a manutenção de aeronaves, e também o estacionamento de média-longa duração”.
“Durante estes 10 anos, o aeroporto de Beja tem realizado actividade diversa, principalmente nas áreas do estacionamento de média-longa duração e da manutenção de aeronaves”, dedicando-se também ao segmento de aviação privada, aos voos charter e a voos de carga.
Ao mesmo tempo, a ANA sublinha que “mantém o aeroporto de Beja preparado para receber o transporte de passageiros” e que está a trabalhar “activamente para o desenvolvimento” desta vertente.
“A ANA – Aeroportos de Portugal reafirma o seu empenho no desenvolvimento do aeroporto de Beja”, que “é, decididamente, um factor adicional de competitividade e deve ser encarado como uma oportunidade de desenvolvimento”, frisa.
Filipe Pombeiro diz à “Lusa” que, no futuro, acredita que a carga também pode ser “bastante importante” no aeroporto, “à medida que a região ganhar mais capacidade exportadora”, podendo apostar nos produtos do Alqueva, “altamente transaccionáveis”.
A valência que lhe parece estar “mais atrasada”, e que a região tem vindo a reivindicar há anos e da qual não abdica, é a ligada ao transporte de passageiros.
“Houve umas incursões no início”, nos primeiros anos, com voos entre Beja e Londres ou entre Beja e a Alemanha, que acabaram por não vingar, mas “em 2018 houve outras experiências que me pareceram positivas, com voos charter para as ilhas Baleares (Espanha), no Verão”, recorda.
E é “essa aposta que o aeroporto terá que ir fazendo”, no seu entender: “Poderá não se justificar haver voos regulares o ano inteiro, mas no Verão a região pode perfeitamente ter voos regulares”.
Crítico das expectativas iniciais criadas em torno do aeroporto, “sobrevalorizadas” pelo então Governo de José Sócrates, o presidente da AEBAL considera que, partindo dessa premissa, “o balanço fica aquém dessas mesmas expectativas”. Mas, olhando para a realidade, “é um balanço positivo” e o aeroporto “não será um equívoco e fará o seu caminho – com tempo”.