Como seria bom comer as 12 passas, desejar e acontecer. Sempre ouvi dizer “ano novo, vida nova”, mas isto deve ser num qualquer canto do mundo que não Portugal.
Em Portugal continuamos a discutir aquilo que os outros já não discutem, porque já fizeram alguma coisa. Não quer dizer que fizeram tudo, mas algumas coisas fizeram.
Honestamente, quando hoje o TRANSPORTES & NEGÓCIOS me pede para escrever algo, fico sempre num dilema exacerbado porque não sei o que hei de escrever sem me repetir.
Ouço estupefacto nas TV que nunca se gastou tanto combustível fóssil como em 2023, nunca se andou tanto de carro como em 2023, que as portagens vão ficar mais baratas, que nunca se verificaram tantas supressões, atrasos e diminuição de oferta ferroviária como em 2023.
Isto tá tudo do avesso?, ou tá tudo o contrário do que era suposto, previsto e anunciado pela UE?
O concurso para a linha TGV, parece que andou mais rápido que o próprio TGV. O prazo para o concurso está a terminar e o TGV ainda não está a começar. Ou demos muita velocidade ao prazo, ou retirámos velocidade ao comboio (estudos e obras).
O novo aeroporto está igualmente condenado à lentidão. A UE diz que tem de ter ligação ferroviária, pois nós escolhemos um local que não tem ferrovia. Mas nos entretantos continuamos a perder turistas por falta de capacidade do aeroporto de Lisboa. Por outro lado, parece que não somos capazes de descortinar alternativas, da mesma forma que os outros países o vão fazendo.

Esta não é minha “quinta” (por isso fui à net e acredito que não esteja completamente errado) mas impacta com ela. A falta de decisão sobre onde, quando, como e de que forma vamos ter TGV ou AV, não vai libertar canais horários na linha do Norte como se pretende, e não libertando canais, não se consegue criar mais oferta, porque não há mais capacidade disponível, dizem, para novos Operadores Ferroviários. Dizem também que na rodovia, na ligação Lisboa/Porto, é que é bom, porque a concorrência veio aumentar a oferta disponível e baixar os preços e que devia ser igual na ferrovia.
Pois sim!… Enquanto não se construir alternativa física ferroviária nunca teremos alternativa operacional/comercial. Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa.
Remando contra a maré, ou tentando remar, os Operadores Ferroviários de mercadorias investem na solução ambientalmente mais sustentável. Uns adquirem novas locomotivas, vagões e empresas, outros transformam, fazem fusões e alteram a designação, de modo a se tornarem mais internacionais com acionistas igualmente internacionais. Depois lê-se que não há mais capacidade para mais operadores, depois fecha-se a linha, cai a barreira, é a plataforma que é pequena e é o “raio da curva que tem um raio que não lhe permite que um raio de um comboio ali circule”. Depois ouço ainda dizer que o projeto da Medway com a Renfe Mercancias tem de ser revisto, porque a fórmula projetada (formação de um novo Operador) iria demorar 2 anos. Talvez possamos concluir que falta de dinheiro não é, e que para além de problemas físicos (infraestrutura) há igualmente muitos problemas burocráticos, regulamentares, de regulação e administrativos que condenam seriamente a solução ferroviária.
Como tudo isto não bastasse, o ciclo político nacional não vai ajudar nada. Em 10 de março, – Eleição da Assembleia da República e em 9 de junho as Europeias. Entre convites, formação do governo e escolha dos vários elencos, nova campanha para as europeias. Entre quem vai e quem fica, logo se vê se não se reformula nada.
“O tempo dá, o tempo tira, o tempo passa e não se passa nada cá, para quem cá fica”.
ANTÓNIO NABO MARTINS
Especialista em Ferrovia
BRAVO!!! Caríssimo A. Nabo Martins