A pandemia de Covid-19 terá provocado um decréscimo de 40% na facturação do sector do transporte rodoviário de mercadorias, mas deu-lhe maior visibilidade.
No Seminário de Transporte Rodoviário do TRANSPORTES & NEGÓCIOS, Joana Fonseca, dirigente da ANTRAM, revelou que o transporte rodoviário foi afectado pelo coronavírus de “forma diversa, porque alguns sectores pararam mas outros não”, com segmentos como a pequena distribuição e o transporte de produtos alimentares a crescerem.
Na globalidade, a ANTRAM estima que “haja um decréscimo na facturação das empresas na ordem dos 40%”. No entanto, houve um factor bastante positivo que saiu da pandemia, referiu a dirigente da ANTRAM: «Houve um grande investimento pessoal para ultrapassar os problemas, o que aumentou a visibilidade do sector. As pessoas tiveram noção da importância do transporte rodoviário de mercadorias. Os motoristas fizeram um grande sacrifício para que as vidas das pessoas corressem o mais normalmente possível e dessem resposta às necessidades do país. Houve a clara noção de que o transporte rodoviário é um elo da cadeia logística e que sem ele as coisas não funcionam”.
Por outro lado, a pandemia trouxe algumas disrupções nas empresas e acentuou as fragilidades de um sector “muito atomizado, constituído por uma grande maioria de pequenas empresas que têm muitas dificuldades de adaptação, a nível tecnológico e mesmo na repercussão dos seus custos nos clientes. A sua fragilidade impede que as empresas possam resolver outros problemas, como por exemplo os que estão a ocorrer derivado da crise dos combustíveis”.
Este é um problema que tem preocupado a associação e que veio interromper um conjunto de reuniões que estavam a ser realizadas entre a ANTRAM e o Governo. Segundo Joana Fonseca “tentámos sensibilizar o Governo para os nossos problemas e solicitámos a introdução de várias medidas, como o apoio à renovação de frotas, que tem existido em vários países. As empresas sentem necessidade de renovar as suas frotas, muito por culpa das imposições ambientais e dos próprios clientes, e é muito difícil para os transportadores, especialmente os pequenos, terem meios financeiros para o fazer. Mas, por exemplo, também era necessário ter ajudas ao abate de viaturas antigas para que as empresas pudessem investir em camiões mais amigos do ambiente”.
A ANTRAM solicitou ainda que fossem tomadas outras medidas de discriminação positiva, mas reconhece que apesar de “não termos tido resposta, nos últimos tempos existiram medidas que vieram ajudar o sector”.
Recorde-se que nos últimos meses, o Governo aumentou para 40 mil litros o limite anual de abastecimento elegível pelo regime do gasóleo profissional, o máximo permitido, e estendeu por mais um ano o regime favorável para abastecimento em ou para instalações de consumo próprio. A tutela reduziu ainda em 50% o Imposto Único de Circulação (IUC) para o transporte rodoviário de mercadorias por conta de outrem e prorrogou a majoração em 20% dos custos com combustíveis em sede de IRC para a generalidade do sector dos transportes rodoviários até 31 de Dezembro de 2026.
Outro dos temas em debate foi a entrada em vigor do Pacote da Mobilidade e as implicações que terá no sector em Portugal, com Joana Fonseca a admitir que apesar das novas regras, que se vão fazer sentir nomeadamente ao nível da cabotagem, dos tempos de condução e repouso dos motoristas, do destacamento, entre outras, a nova legislação “serve para proteger o mercado e os próprios motoristas”.
Joana Fonseca revelou ainda que a nova legislação nacional sobre cargas e descargas “trouxe benefícios e houve uma diminuição muito grande dos tempos de espera, porque os motoristas deixaram de fazer essa tarefa. As empresas apoiaram a 100% esta nova legislação, que trouxe mais rapidez. O trabalho logístico não tem de ser feito pelo motorista”.
Questionada sobre se as empresas rodoviárias deverão apostar mais na multimodalidade, Joana Fonseca considerou que “o transporte rodoviário é um elo importante da cadeia logística e já trabalha com outros modos. O transporte intermodal é uma mais-valia. O transporte internacional vai continuar a existir, porque é o único que consegue fazer o porta-a-porta, apesar de reconhecermos que, dependendo do tipo de mercadoria, existem outros modos que são mais eficientes do ponto de vista ambiental e de custo. Mas o transporte rodoviário não pode deixar de existir e o “last mile” tem sempre de ser feito por nós. Temos de trabalhar para o tornar mais eficiente e menos poluente”.