Um aumento de cerca de 10% do preço das portagens não é aceitável e o Governo não deve permiti-lo, defende o presidente da ANTRAM, Pedro Polónio.
Questionado pela “Lusa” sobre as propostas de actualização de preços das auto-estradas enviadas ao Governo pelas concessionárias, em linha com o valor da inflação registada em Outubro, que, retirando o efeito da habitação, se fixou em 10,4%, o presidente da ANTRAM considerou que os portugueses e as empresas de transporte rodoviário de mercadorias “não merecem” este aumento.
“Não é razoável que, ainda que aumentando os custos de reparação, ainda que admitindo que estão em linha com a inflação, não é aceitável que essa mesma inflação seja repercutida na totalidade dos custos de uma concessionária”, apontou Pedro Polónio.
“Se [as concessionárias de auto-estradas] têm aumentos de custos de 10% na manutenção, a manutenção não representa 100% dos custos e, como tal, […] o Governo não deverá permitir que as auto-estradas venham passar para os seus clientes 10% de aumento dos seus proveitos, da sua facturação, isso não é minimamente aceitável e acho que o Governo vai estar atento“, defendeu.
O dirigente disse ainda não lhe “passar pela cabeça” que “o mesmo Governo que há duas semanas” afirmou estar a “trabalhar para baixar as portagens no Interior”, “venha depois permitir, através de uma regra de actualização de preços indexada à inflação”, que se deixe avançar com aquele aumento.
O presidente da ANTRAM admitiu que as portagens não são a maior dificuldade que as empresas de transporte enfrentam, colocando no topo das preocupações os custos com a compra dos equipamentos, “que estão 30% mais caros”, com os combustíveis e com os salários, “que têm subido ano após ano, na casa dos 150 a 200 euros por mês”.
No entanto, sublinhou, “hoje em dia, as portagens em Portugal são caríssimas e são de tal maneira caras que levam a que os camiões fujam o mais possível das auto-estradas”.
“Se já hoje os camiões utilizam muito pouco este tipo de infra-estruturas no nosso país, porque as concessões estão fechadas, porque tem sido difícil que o Governo renegocie estas mesmas concessões, sobretudo as concessões com maior densidade de tráfego, as do litoral, é um passo absolutamente errado afastar ainda mais os transportadores dessas vias”, afirmou
Pedro Polónio vincou que o uso das auto-estradas, em detrimento das estradas nacionais, deve ser promovido, por razões de diminuição da sinistralidade, bem como por motivos ambientais, pela redução dos consumos e consequente diminuição da emissão de dióxido de carbono.
“Nós propomos, e temos falado muito com o Governo ao longo dos últimos anos, por exemplo, a utilização bi-horária deste tipo de infra-estruturas. Não se justifica que às 22 horas tenha um camião a passar na [Estrada] Nacional e tenha a auto-estrada vazia, o que, se calhar, com uma receita marginal muito menor, imagine 50% de desconto, podíamos utilizar essa mesma infra-estrutura, havendo alguma contribuição para a concessionária e havendo uma melhoria substancial para o nosso sector”, explicou o responsável.
O tema dos aumentos das portagens será, seguramente, tratado no Congresso da ANTRAM, que decorre hoje e amanhã, no Algarve.