A dívida aos operadores relativa aos tarifários sociais atinge 48 milhões de euros. A suspensão da entrega dos passes gratuitos já em Novembro está em cima da mesa, avisa a ANTROP.
Perante uma proposta de Orçamento de Estado para 2025 que alarga os tarifários sociais nos transportes, o presidente da ANTROP (Associação Nacional de Transportes de Passageiros chama a atenção para os atrasos nos reembolsos aos operadores.
“Temos um problema conjuntural, embora dure já há bastante tempo, mas que está neste momento bastante agravado, e que tem a ver com o sistema de reembolso destes valores associados ao tarifário social, reembolso aos operadores de transportes. Está a haver muitos atrasos”, afirmou Luís Cabaço Martins, em declarações à “Lusa”.
Os atrasos, que considerou serem “muito significativos”, traduzem-se numa dívida, apenas nos tarifários sociais, de 48 milhões de euros, disse.
“É uma verba muito significativa para as empresas, há muitas empresas que já estão a pedir empréstimos e créditos bancários para pagar salários – isto com encargos, com juros -, que não faz qualquer tipo de sentido”, lamentou.
Luís Cabaço Martins pede., por isso, que o Governo “recorra a uma medida extraordinária, pague imediatamente aos operadores aquilo que deve, estes 48 milhões de euros”. Caso contrário, adiantou, os operadores ameaçam suspender a entrega de passes nestes moldes.
“Esta é uma medida que nós exigimos do Governo, sob pena de, até para não aumentar o valor da dívida, não fornecermos mais passes até que o problema seja resolvido”, sublinhou, acrescentando que tal tem sido falado com o Governo.
Passe Ferroviário “ameaça” autocarros
As dificuldades do sector poderão ainda agravar-se com o alargamento e embaratecimento do Passe Ferroviário Verde, com a ANTROP a pedir ao Governo para retirar os comboios Intercidades da medida.
“O que não pode fazer é criar uma concorrência desleal com o serviço rodoviário de longo curso e de expresso, com a inclusão dos serviços de Intercidades [no Passe Ferroviário Verde]. O serviço de Intercidades, embora esteja incluído no serviço público da CP, concorre directamente com o serviço que é prestado pelos autocarros de longo curso”, apontou Luís Cabaço Martins, garantindo que este serviço rodoviário dá uma resposta “muito eficaz” e sem custos para os contribuintes.
Luís Cabaço Martins registou que, com a inclusão dos comboios Intercidades no Passe Ferroviário Verde, linhas para zonas como Faro, Lisboa, Porto, Braga, Coimbra ou Évora – “que são as mais rentáveis para o transporte rodoviário” – vão enfrentar um passe ferroviário mensal de 20 euros. “É praticamente gratuito”, atirou.
“O Governo, ao apoiar um modo de transporte e deixar o outro de fora, cria aqui uma distorção perigosíssima e com um impacto seguramente devastador para as linhas fora desta linha litoral”, vaticinou o presidente da ANTROP.
“A solução é retirar o Intercidades desta equação; a partir daí, este problema fica resolvido. Nós só pedimos isso ao Governo”, vincou.