Os apoios à intermodalidade de base ferroviária devem ir além dos operadores ferroviários e abranger também os operadores logísticos, os operadores de terminais, as empresas exportadoras, propõe o presidente da nova Comunidade Logística Ferroviária (CLF).
Na sua primeira entrevista como presidente da recém-criada Comunidade Logística Ferroviária (CLF), António Nabo Martins defende o envolvimento comprometido de todos os players do sector, num sentido lato, para fazer crescer a quota da ferrovia no transporte internacional de mercadorias – que classifica de “miserável”.
Os apoios, finalmente, concedidos ao sector, são um primeiro passo. Mas é preciso ir mais longe, sustenta. Porque não são apenas os operadores ferroviários a promoverem a intermodalidade. Ele há que apoiar também os operadores logísticos, os operadores de terminais, as empresas exportadores, os próprios operadores rodoviários, se for o caso. É assim que Espanha está a fazer, sublinha Nabo Martins.
Cerca de seis meses bastaram para criar a Comunidade Logística Ferroviária. Apesar das burocracias. Um processo fácil porque, na prática todos os membros fundadores sentiam a mesma necessidade. E porque se há metas a cumprir para a transferência modal das cargas, falta um impulso que supra o desconhecimento e quebre o facilitismo que tende a privilegiar o modo rodoviário.
Falando de burocracia, o presidente da CLF critica, por exemplo, a dificuldade de entrada no mercado de novos operadores. Sobre a agilização e uniformização de processos, sublinha a importância da JUL, mas defende mudanças no modelo de governance.
A infra-estrutura é, claro, essencial ao desenvolvimento do transporte ferroviário de mercadorias. Por isso, a CLF quer ter consigo a Infraestruturas de Portugal. E dispõe-se a colaborar com o grupo de trabalho encarregue de gizar o Plano de Transportes e Logística para Portugal, e com todas as entidades interessadas em desenvolver investimentos na área. Por exemplo, em terminais. Com tantos anúncios de terminais, António Nabo Martins alerta para o risco de se passar da fome para a fartura em excesso, que na prática inviabilize esses investimentos e desperdice recursos. Porque nem todas as cidades justificam um terminal, mas há regiões que podem justificar mais de um, diz.
Criada que está a Comunidade Logística Ferroviária, o próximo passo, ainda neste mês de Fevereiro, será a realização de uma assembleia geral para aprovação do plano de actividades. Depois será tempo de apresentar o projecto à tutela e entidades com responsabilidades no sector. E depois avançar-se-á com o processo de divulgação da CLF e de promoção da intermodalidade de base ferroviária, ajudando à mudança de mentalidade, e tratando de arregimentar mais operadores económicos para a causa, nomeadamente as empresas exportadoras, sintetiza o presidente da Comunidade.