Todos nós que trabalhamos na indústria da mobilidade elétrica há vários anos sabemos que ainda temos um grande desafio à nossa frente: criar as condições necessárias para que todos possam conduzir um veículo elétrico. Nos dias de hoje um dos maiores problemas que os utilizadores de carros elétricos enfrentam é quando chega o momento de recarregar as baterias.
Nalguns países, como em Espanha e Itália, ainda não existe uma infraestrutura de carregamento capaz de lidar eficazmente com a denominada “range anxiety” (ansiedade da autonomia). Noutros países, como a Alemanha, Suíça e França, embora o desenvolvimento desta infraestrutura esteja mais avançado, há outra questão pendente: são necessárias diversas apps e cartões para as diferentes opções de carregamento disponíveis para o público e, em muitos casos, não sabemos antecipadamente o preço do carregamento nem se teremos acesso aos carregadores ou se teremos de descarregar mais uma app. Por outras palavras, a preocupação com a experiência do utilizador é notável pela sua ausência.
A transição para veículos elétricos depende, em grande parte, da disponibilidade de uma infraestrutura de carregamento simples e eficaz para a apoiar. Globalmente, e até à data, o carregamento de veículos elétricos é considerado uma coisa complexa por uma grande parte dos utilizadores, uma vez que não existem normas que promovam a homogeneização do setor e proporcionem uma experiência satisfatória.
…a rede portuguesa de carregamento é um exemplo de como podemos colocar a experiência do utilizador no centro da mobilidade elétrica.
E, se a experiência do utilizador é atualmente considerada em toda a parte, e é referida em todos os discursos e em todas as indústrias, o que dizer da experiência do utilizador quando se fala da mobilidade elétrica? Não somos uma exceção. Devemos garantir que os utilizadores tenham uma experiência de recarga mais fácil, e que com uma única app possam recarregar e também saber o preço da recarga de uma forma intuitiva. Por outras palavras, deve haver interoperabilidade entre os diferentes fornecedores de redes em vez de soluções isoladas que tornem o processo difícil e confuso.
E esta interoperabilidade é precisamente o que Portugal e a sua rede Mobi.E está a conseguir com sucesso. Vista através dos olhos de uma empresa multinacional que conhece e opera em diferentes mercados – como a Juice Technology – a rede portuguesa de carregamento é um exemplo de como podemos colocar a experiência do utilizador no centro da mobilidade elétrica. Em contraste com a segmentação que existe nas redes de recarga em muitos países, que se centraram nas necessidades dos setores automóvel ou da energia, Portugal criou uma oferta orientada para um acesso universal dos utilizadores e que integra também os vários intervenientes na cadeia de valor.
Desde o seu nascimento, em 2014, que a Juice Technology tem tentado colocar a experiência do utilizador no centro do nosso negócio. Assim, é uma honra para nós desembarcarmos em Portugal com um projeto tão inovador a este respeito. Conseguir a certificação da Mobi.E para que as nossas estações fixas possam fazer parte da rede de carregamento do país é mais um passo em direção ao nosso objetivo de fazer com que o carregamento de um automóvel elétrico seja um processo fácil, cómodo e flexível.
O Plano Nacional Energia e Clima de Portugal para 2030 exige que o setor dos transportes reduza as emissões de gases com efeito de estufa em 55%. E, tal como Portugal, todos os países enfrentam objetivos ambiciosos nesta matéria para assegurar a descarbonização dos transportes nos próximos anos.
Para isso, a mobilidade elétrica precisa de impulsionadores – como a inspiradora rede de carregamento portuguesa – e não de travões. O caso de Portugal lembra-nos, em suma, que para avançarmos neste processo de transição para a mobilidade elétrica, não podemos esquecer que a indústria deve estar orientada para o verdadeiro protagonista que tornará possível a mudança: o próprio utilizador.
CHRISTOPH ERNI
CEO da Juice Technology