Os objetivos da União Europeia para os transportes são claros: as emissões de dióxido de carbono terão de reduzir-se em 55% até 2030 e em 90% até 2050.
Há quanto tempo o dizemos? O que temos feito?
É agora o momento de agir, diz-se mais uma vez. É agora ou nunca, e, para o cumprimento dos objetivos climáticos, é essencial continuar a investir num setor ferroviário eficiente, o que significa igualmente um aumento em soluções inovadoras e disruptivas, tanto mentais como técnicas.
Eis que senão, leio algures, finalmente, Portugal consegue um apoio de 45 milhões para a promoção da intermodalidade, a dividir por 5 anos, o que significa, 9 milhões por ano, o que permitirá, talvez, chegar a 2030 com menos 55% de emissões tal como previsto pela UE. Sim porque 2025 mais 5 é igual a 2030.
O que já não consigo perceber é se isto é reflexo de medidas que vão de encontro às orientações da UE, ou se por sua vez são o reflexo do anúncio da Medway de sair de Portugal e zarpar para Espanha. Como sabemos, a Medway tem cerca de 90% de quota do transporte ferroviário em Portugal, tendo a Captrain o restante.
Ora, a ser verdade, não me parece ser possível a Captrain, sozinha, atingir aquele objetivo até 2030 – e é aqui, neste estado da nação, que nos encontramos. O que vamos fazer, como vamos fazer, o que temos de fazer, que estratégias desenhar para aplicar bem os 45 milhões que temos à disposição para desenvolver, desmistificar, implementar, executar e desmontar os paradigmas à volta da intermodalidade?
Em Portugal, sempre que surge uma decisão estratégica para o PAÍS, surgem em dobro opiniões contrárias (…). E entramos novamente no “pouca-terra…, pouca-terra…, pouca-terra…
Alguns “Padres Vieira” do nosso tempo têm lembrado “como podia este navio buscar o remédio para a salvação de algumas almas. “Fazei agora o que podeis e deveis, não a nós, que o não merecemos, mas àquelas tão desamparadas almas, que tendes a vosso cargo; olhai que aqui se perdem connosco.” (Padre Ant. Vieira, adaptado). Atualmente os “Padres Ant. Vieiras” são muitos mais; hoje, felizmente, percebeu-se que só com estratégias comuns se atingem objetivos comuns, mas ainda falta muito balastro e muito carril para andar. Conceptualmente já se percebeu, mas na prática continuamos apenas a querer salvar algumas “almas” quando o remédio global já todos sabemos qual é.
Em Espanha, para não ir mais longe, qualquer empresa, operador logístico ou transportador que opte por soluções de transporte mais sustentáveis é bonificado na relação do seu envolvimento para a contribuição da diminuição de CO2. Por toda a Europa, tanto o público como o privado que demonstre e pratique transportes mais sustentáveis é incentivado a continuar, mas acima de tudo é incentivado a apostar em modelos mais sustentáveis, do ponto de vista ambiental, social e económico.
Em Espanha, para não ir mais longe e não é preciso fazer muitas pesquisas, basta ler os artigos do TRANSPORTES & NEGÓCIOS, na ferrovia, diria que foi feito um pacto entre os decisores sobre a melhor estratégia para o PAÍS. Em Portugal, sempre que surge uma decisão estratégica para o PAÍS, surgem em dobro opiniões contrárias ou dificultosas sobre essa mesma estratégia. E entramos novamente no “pouca-terra…, pouca-terra…, pouca-terra…, tão normal na vida da ferrovia nacional.
Foram, pelo menos, 30 anos disto.
Temo que poderão vir a ser alguns mais, se não houver vontade comum, acordos estratégicos, interesses análogos, proveitos idênticos e identificação de como queremos ter o país, pelo menos, em 2050.
Estes impasses, esta falta de estratégia nacional origina os já famosos “bullets” que vêm de todo o lado. Apenas do lado de quem quer investir, quem quer apoiar, quem quer desenvolver, quem quer, ao fim ao cabo, ter mais uma opção para exportar/importar de forma mais competitiva, é que não.
Mas li outra coisa recentemente e até fiquei atónito. Que o Egipto está a construir uma rede ferroviária de 2.000 quilómetros a partir do zero, ligando os pontos críticos económicos e de desenvolvimento do país. A sério?!… O Egipto?! E nós por cá? Fizemos 70 km e…, e parece que fizemos uma obra do “arco da velha”!
Temos muito quem anda a assobiar para o lado, lança o anzol e assobia para o lado, manda um “bitaite” e assobia para o lado, dispara mais um “bullet” e assobia para o lado
“Quem te fala não sabe nada …
Não vale a pena fazê-lo sozinho
De que serve a jornada se não partilhas a chegada
Bem trilhada com o teu vizinho
Se disserem o contrário não fiques preocupado – assobia para o lado
(Assobia para o lado – Carlão, adaptado)
NABO MARTINS
Especialista em ferrovia
Infelizmente Pedro Marques do PS nada fez pelo PDR 2020 e PRR para recuperar a ferrovia nacional depois Pedro Nuno Santos nada fez pela ferrovia e pelos portos. O que fará Miguel Pinto Luz ? …