As organizações que participam na campanha ATERRA defenderam hoje a imediata reposição das ligações ferroviárias nocturnas, ao invés de investimentos no aumento da capacidade aeroportuária.
Num comunicado divulgado na véspera do encerramento da consulta pública do Plano Ferroviário Nacional (PFN), as mais de 20 organizações que já se juntaram a esta campanha apelam igualmente à assinatura da petição internacional para voltar a ligar Portugal à Europa Central por comboios nocturnos.
“Desafiamos o Governo a dar resposta às mais de 8 500 pessoas que já apelaram publicamente à reposição deste serviço”, escrevem as organizações, apelando à participação, na próxima sexta-feira, dia de Greve Climática Estudantil, numa (Mani)Festa do Pijama / Silent Disco, que decorrerá no Cais 3 da Estação de Santa Apolónia, de onde partiam o Sud Expresso e o Lusitânia.
Lembram que há três anos os históricos Sud Expresso (Lisboa-Hendaye-Lisboa) e Lusitânia (Lisboa-Madrid-Lisboa) foram suspensos, “a pretexto da pandemia da Covid-19” e que Lisboa é actualmente “uma das únicas duas capitais europeias sem qualquer ligação ferroviária internacional”.
A campanha ATERRA sublinha que os comboios nocturnos “estão a conhecer um ressurgimento Europa fora”, insistindo: “São a opção mais cómoda e ecológica para viagens de média e longa distância, são a melhor alternativa ao avião e aos aeroportos e são o futuro das viagens internacionais”.
Num momento em que se está a construir uma rede europeia de serviços nocturnos, com a cooperação entre vários operadores ferroviários e novas ligações, como Paris-Hendaye, Berlim-Paris ou Zurique-Barcelona, defendem que o Plano Ferroviário Nacional deve “procurar fazer parte activa dessa rede”.
Por outro lado – frisam – o avião “é um meio de transporte usado, a nível mundial, por uma pequena elite, é aquele que mais polui e cujo impacto climático mais está a crescer”.
Como exemplo, referem que a viagem Madrid – Barcelona (distância semelhante a Lisboa – Madrid) de comboio emite 15 vezes menos dióxido de carbono (CO2) do que em avião.
“Se considerarmos as restantes emissões nocivas da aviação, o impacto climático do comboio é cerca de 30 vezes inferior”, afirmam as organizações, considerando que Portugal precisa de uma redução da aviação, e não de expansões aeroportuárias.
Defendem igualmente que o PFN deve prever a retoma imediata dos serviços Sud Expresso e Lusitânia e que o regresso das ligações a partir de Lisboa deve incluir a retoma das ligações nocturnas Porto-Madrid e Porto-Hendaye.
A médio-curto prazo, insistem, “dever-se-á estender os serviços nocturnos a partir do Porto e de Lisboa até Barcelona, à medida que se coloca um fim às ligações aéreas dentro da Península Ibérica”.
Dizem ainda que a criação de uma ligação nocturna entre Braga e Faro representará um contributo para o fim imediato dos voos domésticos em Portugal Continental, que consideram “um atentado ambiental inaceitável”.
Já quanto à concretização da linha prevista desde o Algarve até Sevilha e Valência, defendem que deve dar origem a uma ligação nocturna internacional de Faro a Barcelona.
“Quaisquer investimentos previstos em linhas de Alta Velocidade devem incluir serviços nocturnos que liguem Portugal directamente a países como Inglaterra, Países Baixos, Itália, Bélgica, Suíça, Luxemburgo e Alemanha”, sublinham.
A campanha ATERRA considera ainda que deve ser definido o investimento público nestes projectos, “desviando os actuais apoios abundantes ao sector da aviação”, que consideram “incompatíveis com qualquer política climática”, dando como exemplo as isenções de IVA e de ISP no combustível de aeronaves.