Os aumentos dos tarifários dos transportes públicos decididos pelo Governo estão a colocar os responsáveis da Fertagus à beira de um ataque de nervos, por causa da perda de passageiros.
Como se o desemprego e as poupanças forçadas não bastassem para reduzir o número de utilizadores do “comboio da ponte”, e em particular daqueles que adquirem os passes mensais, a agressiva actualização dos tarifários, decidida pelo Executivo, está a afastar um número crescente de passageiros e a obrigar a concessionária a refazer as contas. Até ao final de Setembro, a procura caiu 10%.
O alerta foi deixado pela administradora-delegada da concessionária, no decorrer de um seminário promovido pela Lisboa pela Fernave. Cristina Dourado lembrou que boa parte dos passageiros da Fertagus utilizam títulos de transporte combinados, pelo que os aumentos dos tarifários dos operadores públicos da capital acabam por reflectir-se também na venda de títulos, e na utilização dos serviços, da travessia ferroviária do Tejo.
O caso complica-se para a empresa do Grupo Barraqueiro porque, na sequência da última revisão do contrato de concessão, em 2010, a Fertagus passou a assumir todos os riscos da operação (e desde logo o risco da procura), sem direito a receber qualquer compensação pelo serviço público que presta.
Os sucessivos aumentos dos tarifários – e anuncia-se mais um para Janeiro… – não estavam previstos no contrato e, logo, não entraram nas contas da concessionária, avisou Cristina Dourado. É preciso atenção, pois, disse.
Esta não será, de resto, a primeira surpresa com que a Fertagus se vê confrontada. Sem aprofundar, a administradora-delegada da empresa aludiu também ao incremento do valor da taxa de uso (cobrada pela Refer enquanto gestora da infra-estrutura), numa amplitude que também não estaria prevista no contrato de concessão.
A Fertagus está obrigada a entregar ao Estado 75% do valor das receitas realizadas acima do previsto contratualmente, e nos três últimos anos da concessão, entre 2017 e 2019, terá de entregar 50% dos resultados líquidos, num mínimo de 3,6 milhões de euros, sublinhou Cristina Dourado.