A Auto-Viação Feirense está em Cabo Verde para recrutar 30 motoristas de autocarros. Candidatos são às centenas.
Em vésperas de iniciar a operação do lote 4 da rede de transportes públicos da Área Metropolitana do Porto, que a obrigará a aumentar a frota e a produção, e sem motoristas disponíveis em Portugal, a AV Feirense rumou (como outras) a Cabo Verde para contratar.
Centenas de cabo-verdianos enfrentaram, hoje, durante horas, primeiro a chuva depois o sol tropical, junto a um hotel na cidade da Praia, na expectativa de conseguirem uma das 30 vagas para motorista da AV Feirense, relatou a “Lusa”. Todos com o objectivo de melhorar as suas condições de vida e dos seus, porque a crise aperta e o salário mensal de 200-300 euros não chega para enfrentar a carestia.
“Nós não anunciámos que vínhamos cá. Nós só anunciámos a 30 ou 40 pessoas, que é com quem já tínhamos de facto contacto e nós até só viemos cá recolher os contratos de trabalho, falar com eles, fazer teste de estrada. Entretanto, fiquei surpreendido com esta avalanche de gente aqui à porta para ser trabalhador da Auto Viação Feirense. Ficamos felizes”, confessou à “Lusa” Luís Osório, responsável jurídico da empresa.
Fundada em 1936, a AV Feirense conta com mais de 400 autocarros, em serviços locais, regionais, nacionais e internacionais, operados por mais de 250 motoristas. Em breve, espera o responsável, serão mais 30 cabo-verdianos, simplesmente porque em Portugal já não encontram motoristas.
Na primeira fase, explicou, a empresa pretende recrutar 30 em Cabo Verde, até final do mês, tudo dependendo do processo de emissão de vistos de trabalho pelas autoridades portuguesas: “Nós vamos cumprir toda a legalidade, aquilo que nos pode atrasar o recrutamento internacional é a emissão do visto de trabalho (…) Nós queremos dar-lhes as melhores condições, as condições que damos a qualquer trabalhador, trabalho sem termo, mas para isso precisamos dos vistos”.
A operadora, explica o administrador, está em processo de crescimento e prevê aumentar a frota de autocarros para mais de meio milhar no próximo ano, mas depara-se, como outras que já recrutaram também em Cabo Verde recentemente, com falta de motoristas.
“Nós vamos em breve começar uma grande operação que é o chamado lote quatro da Área Metropolitana do Porto, foi-nos concessionado um lote que envolve à volta de 150 autocarros diários, isso implica um aumento de produção”, explicou Luís Osório.
Contudo, sublinha, o mercado de motoristas em Portugal “atingiu o pleno emprego”: “Já antes da pandemia havia alguma falta de motoristas. Com a pandemia, tanto o serviço de autocarro, sobretudo autocarro de turismo, parou. Muita gente que era motorista saiu da profissão, montou o próprio negócio e foi para o sítio. Muito motorista de autocarro saiu para a carga e mantém-se na carga, não regressou. O transporte de passageiros já antes tinha um défice muito grande, ou seja, reformavam-se mais do que os que entravam”.
O recrutamento em Cabo Verde pela empresa de Santa Maria da Feira promete não ficar pelos 30 motoristas iniciais.
“É um sítio fácil de recrutamento. O Governo percebeu isto no Verão, alterou a lei por forma a dar algumas equivalências às cartas de condução e nos certificados de aptidão de motorista. E, portanto, percebemos que aqui em Cabo Verde era um bom sítio, onde nós podemos ir buscar motoristas para operar os nossos autocarros”, assumiu, prometendo uma “mudança de vida” aos que forem recrutados por estes dias. “Procuramos pessoas que queiram trabalhar, simplesmente trabalhar”, concluiu.