As companhias marítimas continuam a escolher os estaleiros com piores práticas ambientais para desmantelar os navios, com o Bangladesh na liderança destacada.
Os dados mais recentes da ONG ecologista Shipbreaking Platform (que podem ser consultados aqui) revelam que dos 647 navios oceânicos e unidades offshore vendidos em 2019 para estaleiros de desmantelamento, 469 (representando quase 90% da tonelagem total) foram enviados para apenas três praias, no Bangladesh, na Índia e no Paquistão.
“O Bangladesh continua a ser o depósito de lixo preferido para navios em fim de vida, carregados de toxinas. Há um amplo conhecimento dos danos irreparáveis causados por práticas sujas e perigosas nos lodaçais das marés, mas o lucro é o único factor decisivo para a maioria dos armadores ao vender os seus navios para abate”, comenta, no documento, Ingvild Jenssen, fundador e director da Shipbreaking Platform.
De acordo com esta ONG, os Emirados Árabes Unidos e a Grécia estão no topo da lista de países que em 2019 enviaram mais embarcações para aqueles destinos. Os armadores dos EAU foram, no ano passado, responsáveis por 45 navios vendidos aos estaleiros de desmantelamento do Sul da Ásia, seguidos de perto pelos congéneres gregos, com cerca de 40 navios.
Por companhias, a Shipbreaking Platform destaca a Evergreen, de Taiwan, como a que mais embarcações envia para abate poluente e perigoso no Bangladesh. A lista de companhias que mandaram navios para as praias do Sul da Ásia inclui nomes como a Maersk, Costamare, CMA CGM, MOL, MSC, NYK e Vale.
Mortos ou feridos graves
No ano passado, pelo menos 26 trabalhadores perderam a vida durante o desmantelamento de navios, de acordo com a ONG. A entidade documentou acidentes que mataram 24 trabalhadores na praia de Chattogram, tornando 2019 o pior ano desde 2010 em termos de mortes para os estaleiros do Bangladesh.
Pelo menos outros 34 trabalhadores ficaram gravemente feridos. Embora o número total de mortos em estaleiros indianos seja desconhecido, fontes e meios de comunicação locais confirmaram, segundo a Shipbreaking Platform, pelo menos duas mortes em estaleiros que alegam operar com segurança, mas não foram incluídas na lista da UE de instalações de reciclagem de navios aprovadas.
“Soluções limpas e seguras já estão disponíveis. Aplaudimos companhias, como a holandesa Van Oord, que têm uma política responsável de reciclagem de navios ‘fora da praia’ há muitos anos. Enquanto outros armadores lamentam a falta de capacidade de reciclar de maneira sustentável, apenas 31 embarcações foram registadas como recicladas em instalações aprovadas pela UE, o que representa uma fracção minoritária do que esses estaleiros conseguem suportar”, indica o responsável de comunicação e políticas da plataforma naval da ONG, Nicola Mulinaris.