A Cabo Verde Airlines (CVA) vai suspender vendas e voos por mais 14 dias, face à intenção de renacionalização da companhia pelo governo e ao pedido de arresto de um avião.
“É com surpresa e apreensão que a administração da CVA assiste (…) às ações do Estado de Cabo Verde, como accionista minoritário, ameaçando nacionalizar, à tentativa de apreensão de bens de terceiros que não têm dívidas com a companhia aérea ou o Estado”, lê-se num comunicado assinado pelo director executivo da companhia, Erlendur Svavarsson, a que a “Lusa” teve acesso.
“Devo manifestar a minha decepção com a decisão do Governo de tentar prender a aeronave na ilha do Sal, o que impede a empresa de retomar as operações conforme planeado. Após 15 meses de preparação [período de suspensão de voos da CVA devido à pandemia de covid-19], investimento numa nova plataforma de reservas, formação de pessoal e divulgação de horários e destinos, a empresa está pronta para voar. Mas somos impedidos de fazê-lo, totalmente com base na intervenção do Governo”, criticou.
O governo cabo-verdiano anunciou na sexta-feira a reversão de 51% das acções da CVA vendidas à islandesa Loftleidir em 2019, justificando que em causa está o “interesse público estratégico” e a “segurança nacional”.
O anúncio foi feito em conferência de imprensa, na cidade da Praia, pela ministra da Presidência do Conselho de Ministros, Filomena Gonçalves, que recordou que a privatização em 2019 foi “promissora”, mas, com a crise pandémica, o parceiro anunciou não estar em condições de assegurar a continuidade da companhia, o que levou o Governo a encetar negociações em busca de uma nova solução.
Paralelamente, segundo a imprensa local, o Estado cabo-verdiano avançou com um pedido de arresto do Boeing da Loftleidir alugado pela CVA.
“A apreensão da aeronave não só impede a operação como obrigou o proprietário da aeronave a exigir o cancelamento da matrícula da aeronave no registo cabo-verdiano. Esta aeronave alugada, que nunca foi propriedade da CVA, não estará, portanto, disponível para quaisquer voos futuros da companhia aérea, independentemente da futura titularidade das acções da companhia aérea”, avisa Erlendur Svavarsson.
“Entretanto, a CVA é forçada a cancelar as suas vendas e operações de voo nos próximos 14 dias e irá proteger todos os passageiros de acordo com as políticas de reembolso e de acordo com todas as leis e regulamentos aplicáveis conforme apropriado em cada jurisdição. A CVA espera voltar aos céus em breve porque a procura pelos seus serviços nas últimas semanas, medida pela venda de bilhetes, demonstra claramente a necessidade de uma companhia aérea nacional em Cabo Verde”, esclareceu, entretanto, o responsável.
Para o administrador, os accionistas deviam “resolver as suas diferenças de uma forma menos prejudicial para a companhia aérea e passageiros”.
“Peço aos accionistas, em particular ao Estado de Cabo Verde, que encontrem uma resolução satisfatória para todas as partes e deixem o Conselho de Administração gerir a companhia aérea de forma condizente com uma empresa de aviação”, escreveu.
A companhia deveria ter retomado no passado dia 18 os voos internacionais, com uma ligação entre o Sal e Lisboa, que acabou por não se realizar, após várias horas de espera no aeroporto, face à falta de autorização da empresa ASA, que gere o espaço aéreo e os aeroportos, por causa de um alegado diferendo, não esclarecido ainda por qualquer das partes, sobre pagamentos em atraso por parte da operadora, pelo quem após 15 meses de suspensão, continua sem atividade.