A Comissão Europeia quer que os estados-membros façam a migração para a bitola UIC nas linhas que integram os corredores ferroviários da RTE-T, mas admite excepções, pelo menos temporárias.
A Irlanda (pela sua insularidade) poderá não ser a única excepção à intenção da Comissão Europeia de impôr a migração da bitola nos corredores ferroviários da RTE-T. A proposta apresentada prevê que os estados-membros elaborem os seus planos de migração num prazo de dois anos após a entrada em vigor do Regulamento, mas admite que o processo possa não avançar caso a análise custo-benefício não seja favorável.
Nesses casos, Bruxelas reconhece que o timing da migração poderá ser dilatado, mas mantém o objectivo final de ter uma rede europeia em bitola UIC, até para garantir um livre acesso ao mercado e uma livre concorrência.
A proposta da Comissão prevê que as novas linhas integrantes dos corredores da RTE-T sejam construídas de raiz em bitola UIC, e argumenta que isso não implica uma diferença de custos, apenas que seja acautelada a ligação à restante rede nacional. Será este o caso da nova linha Lisboa – Porto, exclusiva para passageiros mas que integrará o Corredor Atlãntico.
No caso das linhas já existentes, e salvaguarda a questão do custo-benefício, o objectivo é proceder à mudança de bitola nas ligações transfronteiriças. A Comissão cita o caso de Espanha para reconhecer que já soluções técnicas que permitem a convivência entre diferentes bitolas (eixos telescópicos, terceiro carril), mas argumenta que tais soluções devem ser antes utilizadas para facilitar a migração, ao invés de perpetuarem a situação actual.
As dificuldades no escoamento dos cereais da Ucrânia tornaram evidentes para o Executivo de Bruxelas as debilidades da fragmentada rede ferroviária europeia. Debilidades essas que, sustenta, serão muito maiores, em particular no cruzamento das fronteiras, se se cumprirem os objectivos de transferência modal das cargas, da rodovia para a ferrovia, desejados pela UE.
No caso português, as ligações ferroviárias a Espanha integram o Corredor Atlântico. Os trabalhos de modernização em curso, no âmbito do Ferrovia 2020, contemplam apenas a colocação de travessas polivalentes, ou bibitola, que permitirão no futuro, e em articulação com Espanha (como é óbvio, e como propõe a Comissão), a migração para a bitola UIC. Faltará saber se o benefício compensará o custo.