Os portos de Sines e de Leixões ou a futura linha ferroviária entre Évora e o Caia poderão ser os próximos alvos do investimento chinês em Portugal.
Quem o diz é o responsável pela área de consultoria financeira da EY (Ernst & Young) em Portugal, Miguel Farinha, em declarações à “Lusa” no final de uma visita à China.
“A próxima área em que veremos maior interesse dos chineses é infra-estruturas. Até porque em Portugal tivemos um período de acalmia neste sector e agora estamos a voltar”, afirmou Miguel Farinha, em Pequim.
O consultor apontou os portos de Sines e de Leixões, novos hospitais e linha ferroviária Évora-Elvas como potenciais
alvos de interesse para o capital chinês.
“Há vários grupos chineses que querem entrar nesse tipo de projetos, como já acontece em países africanos de língua portuguesa”, disse.
Miguel Farinha, que esta semana esteve em Pequim e Xangai a apresentar oportunidades de investimento em Portugal afirma, no entanto, que a reduzida escala do mercado português constitui um entrave em atrair maior interesse da China.
“O tema da escala é crítico, porque nós temos uma dificuldade muito grande em apresentar empresas interessantes a investidores chineses devido à dimensão das coisas”, explicou.
“A empresa normal média portuguesa está na casa dos 10, 15, 20 milhões [de euros] de facturação anual. Isso para eles é uma coisa muito pequenina”, afirmou. “É um restaurante aqui [na China]”.
Miguel Farinha destacou, no entanto, a receptividade de Portugal ao investimento chinês como uma vantagem.
“Acho que a forma como as empresas portuguesas receberam bem o investimento chinês, assim como o próprio Governo, sempre foi uma vantagem face a outros países europeus”, conta.
“Portugal nunca passou por aquela fase de desconfiança. A percepção é que o investimento chinês é a longo prazo, e não um investimento – como já aconteceu com outros grupos estrangeiros que entraram em Portugal – que acaba por
desmantelar tudo e a empresa portuguesa passa a ser uma subsidiária em Portugal de um grupo maior”, explicou.
Plataforma giratória
Já Pedro Fugas, sócio dos serviços de Assessoria Fiscal da EY Portugal, lembrou que Portugal pode ser uma excelente plataforma para o investimento chinês na América do Sul, países de língua portuguesa em África e Europa.
“Portugal tem das melhores redes de tratados para evitar dupla tributação com países da América Latina e América Central”, disse.
“Ainda temos muita cerimónia em nos apresentarmos como uma alternativa ao Luxemburgo, Holanda, Reino Unido, que há anos se posicionam no mercado dessa forma, mas somos claramente melhores como plataforma”, acrescentou.
A China tornou-se, nos últimos anos, um dos principais investidores em Portugal, comprando participações importantes nas áreas da energia, dos seguros, da saúde e da banca.
SIPG “entusiasmado” com Sines
Esta semana, a ministra do Mar e o presidente do Porto de Sines reuniram, em Xangai, com dirigentes da Cosco Shipping e do Shanghai International Port Group (SIPG), operador exclusivo dos terminais de contentores do porto da cidade, número um mundial.
Em ambos os encontros, o novo terminal de contentores de Sines, o terminal Vasco da Gama, foi tema de conversa, com Ana Paula Vitorino e José Luís Cacho a tentarem motivar ao investimento.
No final, as notas de imprensa do Ministério do Mar deram conta do interesse -e até do entusiasmo, no caso do SIPG – dos chineses com os projectos lusos.
O grupo Cosco, recorde-se, controla, além de terminais na China, o porto do Pireu, o terminal de contentores de Zeebrugge e os principais terminais espanhóis (por força da compra da Noatum Ports). Segundo a Drewry, já em 2020 a Cosco Ports será o maior operador mundial de terminais de contentores, em termos de capacidade.
Já o SIPG é controlado pelo Estado chinês, sendo o segundo accionista o China Merchants Group e o terceiro… a Cosco.
O grupo de Xangai pretende investir na intercionalização do negócio, em parceria com os seus accionistas de referência, estando já em Haifa (Israel).
Responsáveis do SIPG estiveram já em Sines, na semana passada, para conhecerem a realidade local e os projectos de desenvolvimento.