A Comissão Europeia “chumbou” hoje a fusão entre os estaleiros sul-coreanos Daewoo e Hyundai por considerar que afectaria a concorrência no mercado mundial de GNL.
“A Comissão Europeia proibiu, ao abrigo do Regulamento de Fusões da UE, a aquisição da Daewoo Shipbuilding & Marine Engineering pela Hyundai Heavy Industries Holdings. A fusão entre os dois construtores navais sul-coreanos teria criado uma posição dominante pela nova empresa resultante da fusão e reduzido a concorrência no mercado mundial da construção de grandes navios de transporte de gás liquefeito [GNL]”, anunciou a instituição em comunicado.
Além disso, segundo o Executivo comunitário, “as partes não ofereceram formalmente soluções para responder às preocupações da Comissão”.
Em conferência de imprensa, em Bruxelas, a vice-presidente executiva da Comissão Europeia com a pasta da Concorrência, Margrethe Vestager, assinalou que os dois construtores navais sul-coreanos “são agentes muito fortes no mercado do transporte do GNL”.
“Apenas um nicho de construtores navais de todo o mundo são capazes de construir estas embarcações. A fusão teria criado uma posição dominante no mercado da construção de grandes navios de GNL e isto teria levado a uma menor escolha de preços mais elevados e, em última análise, a menos inovação para os clientes europeus”, referiu a responsável pela tutela da concorrência europeia.
De acordo com Margrethe Vestager, como “as empresas não apresentaram quaisquer soluções formais para compensar os efeitos negativos desta aquisição, a fusão não pôde ser aprovada”.
“O objectivo do controlo das fusões na UE é impedir a criação de monopólios ou de agentes dominantes que prejudiquem a concorrência e os clientes ou consumidores europeus e esta avaliação que fazemos inclui, naturalmente, um equilíbrio entre os efeitos positivos e negativos de um possível negócio”, referiu.
“O GNL é uma das fontes de energia da Europa. Pode ser transportado por longas distâncias sem a necessidade de condutas […] em navios especialmente concebidos e isto, claro, significa que as fontes de abastecimento podem ser diversificadas, uma vez que o GNL é importado de várias partes do mundo. Um objectivo-chave da União Europeia da Energia é assegurar que todos os Estados-membros tenham acesso aos mercados”, contextualizou Margrethe Vestager.
Em altura de crise energética, com os preços da luz e do gás a baterem máximos, a vice-presidente executiva da CE acrescentou que “a situação actual na Europa é um lembrete de que a diversificação das fontes de abastecimento é fundamental”.
“Cerca de um quarto de todo o consumo de energia da UE é constituído por gás natural e a maior parte deste é importado, incluindo sob a forma de energia. O produto no centro da decisão de hoje é uma parte essencial da cadeia de abastecimento de GNL, dado que grandes navios trazem GNL de diferentes regiões de produção para a Europa”, adiantou.
O mercado mundial para a construção de grandes navios-tanque de GNL mobilizou, nos últimos cinco anos, cerca de 40 mil milhões de euros, sendo um “grande mercado e cuja importância para a Europa reflecte-se também no facto de cerca de metade de todas as encomendas para estas embarcações virem de clientes europeus”, precisou Margrethe Vestager.
Já questionada sobre o diferente entendimento de reguladores como o chinês, que aprovaram o negócio, a responsável adiantou: “Chegámos a diferentes conclusões porque cada um de nós tem em conta os seus consumidores”.