Estamos a meados de Agosto, o mês mais apetecido para muitos portugueses. Para uns, porque significa férias, para outros porque significa problemas adicionais à sua vida quotidiana, nomeadamente porque se deparam com novas situações para as quais não estavam “formatados” durante os outros 11 meses, – os filhos, os sogros, os primos da “frança”, o encerramento de infraestruturas, o fecho de empresas, etc…, enfim uma canseira.
Normalmente é também neste mês de agosto que o comum dos seres mais apetência tem para fazer compras, e é também neste mês que muitas empresas trabalham a um nível altíssimo, nomeadamente na área da logística e dos transportes.
Tenho verbalizado inúmeras vezes – e escrito outras tantas – a importância das infraestruturas para a logística. Aquando do anúncio do encerramento da Linha da Beira Alta, referi que seria relevantíssimo que não se perdesse um grama de carga ferroviária.
É verdade que foram dezenas de anos sem qualquer investimento na ferrovia nacional, é verdade que ultimamente se têm feito e anunciado vários e relevantes investimentos nesta, também é verdade que “roma e pavia não se fizeram num dia”, mas também é verdade que é muito mais difícil reconquistar do que conquistar um cliente e, mesmo assim, tomámos a decisão de fechar a nossa principal ligação ferroviária à Europa no mês de agosto.
É igualmente verdade que todas as empresas buscam meios para atingir melhores resultados. Mas é muito mais verdadeira a necessidade de encontrar equilíbrios entre quem faz e quem utiliza, para que, não tenhamos um e percamos o outro, ou seja, tenhamos infraestrutura e não tenhamos negócio.
Mas, afinal, por que precisamos de viver em equilíbrio, ou seja, andar em equilíbrio? Qual o real motivo para que devamos procurar equilíbrio?
Talvez pela nossa formação e própria existência, pois, sem equilíbrio teremos dificuldades em cumprir a nossa função. Depois, pelo ambiente, a necessidade de sermos mais verdes e vermos tudo à nossa volta a funcionar melhor, e finalmente pela inteligência de sabermos trabalhar em parcerias sinérgicas, no sentido de alcançar os melhores resultados para todos.
…é muito mais difícil reconquistar do que conquistar um cliente e, mesmo assim, tomámos a decisão de fechar a nossa principal ligação ferroviária à Europa no mês de agosto.
A “localização ferroviária” de Portugal representa um desafio logístico desde sempre. Especialmente para as empresas exportadoras que necessitam de chegar à europa e para as quais as distâncias representam um desafio ainda maior. E sobretudo quando o transporte ferroviário, conhecidamente ineficiente, foi “abandonado” pelos investimentos realizados pelo país nas últimas décadas. O país até tem demonstrado alguma capacidade para atrair investimentos industriais ou de serviços. Alguns, com alguma competitividade no custo de produção, da especialização e no uso de tecnologia. Mas perde competitividade quando o tema é a logística.
A nossa matriz de transporte é muito desequilibrada. Assenta quase todo o transporte intraeuropeu no transporte rodoviário, mesmo para distâncias mais longas. É uma solução de eficiência energética muito baixa.
A quota da ferrovia ibérica não cresce há décadas e isso é muito notado na UE, que tem insistentemente apresentado pacotes de apoios para a área. Isto pode significar ter de ser mais “verde” e mais sustentável ou que esta infraestrutura é insuficiente para a produção e para as necessidades.
Atente-se à informação da AMT sobre a repartição modal em Portugal:
É evidente que se queremos atingir as metas propostas pela tutela para as nossas exportações, a nossa infraestrutura logística precisa crescer mais do que cresce atualmente, nomeadamente a ferroviária.
Ter mais ferrovia não significa que precisemos de deixar de investir em rodovia e em terminais. “Nos USA, para chegar a um terminal, fazem-se, em média, 150 km. Eles têm uma malha mais densa e uma quantidade muito maior de terminais”. Claro que não nos podemos comparar aos USA, mas devíamos criar esta tal malha, para tornar a dependência da rodovia menor e, mais uma vez, encontrar um equilíbrio entre estas valências.
A integração entre os vários modos é o caminho certo. Como lhe chamo, é fundamental a aposta no 5º modo de transporte – intermodalidade. É fundamental que nossa infraestrutura logística cresça mais do que a produção, e se queremos crescer precisamos aumentar os investimentos em infraestrutura – seja por meio de investimento publico ou da iniciativa privada.
ANTÓNIO NABO MARTINS
Especialista em ferrovia