O congresso da APAT é já referência incontornável na análise e debate do setor dos transportes Internacionais em Portugal.
Este ano o 18.º Congresso da APAT decidiu abordar “A disrupção do sistema logístico”. O tema já de si muito atual e muito impactante na vida de todos nós, levava-nos a pensar ser possível analisar o momento, mas ao mesmo tempo tentar antecipar algumas tendências que se perspetivam para o futuro. Sabíamos que não ia ser fácil, mas os acontecimentos recentes e a velocidade a que tudo hoje se move, obriga a este tipo de exercício.
Iniciámos o Congresso com a intervenção do Sr. Ministro da Infraestruturas, Pedro Nuno Santos que começou por afirmar que “se não tivermos um bom setor de logística, não conseguimos ter sucesso enquanto economia” e realçando a importância da parceria entre a Ferrovia e a Rodovia, negando qualquer ideia de maior auxílio a um em detrimento do outro, “…se foi gerando esta ideia de que um é adversário do outro. A verdade é que eles têm papéis diferentes” continuando por referir que “Este setor, se quiser dar o seu contributo e sobreviver a esta grande pressão para a transição ambiental e climática, temos que investir e apostar na ferrovia”.
O Sr. Ministro enfatizou que é imprescindível “…fazer com que a economia poupe dinheiro” e que “desinvestimos neste meio de transporte que permitia ao país importar menos (neste caso combustível), mas também poderia proporcionar menos custos na mobilidade, porque obviamente a mobilidade rodoviária é mais cara do que a mobilidade ferroviária, que por razões de quantidade permite baixar o custo” e que “…nós, em vez de termos investido nas últimas décadas num meio de transporte que já tem a solução elétrica inventada há muitas décadas, começámos a fazer o errado e a desinvestir na ferrovia”.
[a APAT propõe a] Reorganização do Estado, criando uma Secretaria de Estado, ou mesmo uma Direção Geral para a Logística e Transportes, tendo a responsabilidade e competências que lhe permitam ter sob a sua alçada as decisões estratégicas sobre todo o setor;
Acreditamos que o nosso objetivo foi atingido, concluindo, talvez presunçosamente, que o nosso futuro logístico será uma disrupção permanente, porque ninguém é capaz de antecipar ou antever o fim desta desordem. Podemos talvez resumir os três painéis que debateram o dilema atual da seguinte forma:
- A falta de navios, de contentores, de mão-de-obra especializada, descarbonização provocam o aumento exponencial dos preços;
- O crescimento do e-commerce e o elevado investimento para novos meios de transporte atrasam a descarbonização do setor;
- A crescente automatização de veículos e a criação de rotas mais inteligentes tornam essencial a criação e a modernização das infraestruturas do país;
- Só com Infraestruturas mais eficientes podemos ter um aumento da competitividade do setor e do país, a nível internacional;
- A tecnologia ajudará a suportar a resiliência do setor;
- A otimização das cadeias logísticas deverá permitir que as empresas sejam mais eficientes e que reduzam custos;
- O crescimento da Inteligência artificial tem aumentado a automatização e eficiência nos processos;
- A digitalização tem permitido a uniformização e automatização dos processos operacionais.
Apesar destas incertezas todas, em que todas somam parcelas negativas na equação, os nossos congressistas arriscaram antecipar algumas formas de minimizar e ultrapassar alguma delas:
- Focar a atenção no digital para garantir a competitividade no mercado global;
- A troca eletrónica de dados é a próxima etapa nas cadeias logísticas;
- A digitalização é um desafio, mas também uma oportunidade para o setor transitário, pois vai permitir diminuir o tempo de resposta dos operadores e garantir uma maior qualidade e eficiência no transporte;
- Consumir mais perto, pois é espectável que, gradualmente, os ecossistemas produtivos vão ser mais próximos do consumo;
- O desenvolvimento de sistemas intermodais – com boas ligações entre o tráfego rodoviário, marítimo e ferroviário – permitirá reduzir a emissão de gases com efeito de estufa e criar parcerias competitivas;
- Ter estruturas competitivas que assegurem a conetividade;
- A utilização de ferramentas tecnológicas que incluam inteligência artificial e machine learning permitirão tomar melhores decisões, mais rápidas e com maior eficiência;
- A formação profissional é importantíssima de forma a preparar e capacitar em contínuo os profissionais do setor;
- A transformação digital exige novos conhecimentos e preparação por parte dos recursos humanos, que terão que ser requalificados e formados;
A APAT, nos termos da lei, está filiada na FIATA, na CLECAT, na ALACAT, federações, confederações ou organismos congéneres, nacionais ou estrangeiros e ainda em várias entidades públicas ou privadas, nacionais e estrangeiras, e enquanto tal entendemos tomar a liberdade de enviar à Tutela algumas propostas que, em nossa razão, poderiam obviar e até ajudar a solucionar alguns problemas que afetam a competitividade das nossas empresas, nomeadamente a morosidade com que algumas entidades tardam a deliberar.
- Manter o foco numa política económica de investimento em pesquisa e inovação, transporte ferroviário e infraestrutura portuária e aeroportuária;
- Reorganização do Estado, criando uma Secretaria de Estado, ou mesmo uma Direção Geral para a Logística e Transportes, tendo a responsabilidade e competências que lhe permitam ter sob a sua alçada as decisões estratégicas sobre todo o setor;
- Relançar a dinâmica da implementação da Janela Única Logística, que se estiver integrada numa futura estrutura que faça a ligação com todo o setor, e que permita integração com todos os modos de transporte, seguramente terá maior desenvolvimento;
- Criar Corredores Logísticos, conectados e que conectem plataformas logísticas, colocando-os ao serviço da produção nacional, para ajudar a viabilizar as empresas instaladas em Portugal, nacionais e multinacionais, permitindo que mais empresas consigam fazer chegar os seus produtos aos mercados internacionais;
- Elaborar uma estratégia que deverá passar por termos Portugal como um hub logístico internacional;
- Fomentar o conhecimento, inteligência, capacidade tecnológica e governação. Sobretudo que se criem as infraestruturas necessárias para prosseguir esta estratégia;
O ambiente colaborativo digital é um fator verdadeiramente disruptivo e diferenciador e que constitui uma vantagem para as empresas. Hoje, as empresas, colaboradores, clientes e parceiros convergem, colaboram e comunicam num mundo digital – mundo esse que se pretende que seja um espaço tecnologicamente seguro, ágil, produtivo e envolvente.
A APAT apresenta-se como entidade agregadora deste conhecimento coletivo, pelo que nos dispomos a colaborar, intervir e a cooperar, com todas as entidades públicas e privadas.
Onde se lê “espectável” não se deveria ler “expectável”? Trata-se de um erro que tenho visto repetido até à exaustão nos últimos tempos.