A falta de uma solução para o sistema Convel está a atrasar a entrada da Continental Rail em Portugal, disse ao TRANSPORTES & NEGÓCIOS o director-geral da operadora espanhola.
Primeiro foi a pandemia, agora é a ausência de equipamentos ferroviários compatíveis com o sistema Convel. Ainda assim, a Continental Rail projecta começar a transportar mercadorias em Portugal ainda este ano.
A empresa espanhola (Grupo ACS) anunciou em Março do ano passado ter pedido ao IMT a atribuição do certificado de segurança ferroviário. A ideia era, então, iniciar as operações no Verão. Entretanto, a pandemia surgiu em força e, também por isso, o certificado só foi atribuído em Outubro passado, adiantou Mario Buñuel Tejedero.
Agora a empresa debate-se com a falta de locomotivas compatíveis com o sistema Convel português. “Necessitamos de uma solução. Parece que não existem equipamentos, nem se fabricam. Hoje em dia, é uma barreira à entrada [no mercado]”, comentou ao TRANSPORTES & NEGÓCIOS o director-geral da Continental Rail.
O problema é grave, porque “da solução do sistema de segurança e sinalização” dependerá a escolha do material de tracção, acrescentou.
Em Março do ano passado, a Continental Rail tinha a intenção de operar no transporte ferroviário de contentores, usando para o efeito locomotivas interoperáveis. Agora, Mario Buñuel Tejedero não refere quaisquer tráfegos. E se mantém a intenção de começar a operar em 2021, também diz que só avançará “quando tivermos 100% de probabilidades de êxito”.
Takargo também se queixa
Com o mesmo problema do Convel debate-se também a Takargo. Na recente entrevista ao TRANSPORTES & NEGÓCIOS, Álvaro Fonseca, director-geral da empresa, lamentou a impossibilidade prática de renovar / reforçar o parque de locomotivas, porque não há já material disponível no mercado compatível com o obsoleto sistema português.
Com a electrificação da rede ferroviária nacional a avançar, em particular nas ligações transfronteiriças, a Takargo sente a necessidade de alterar a sua frota, de locomotivas diesel para locomotivas eléctricas. Mas a opção preferida, da Stadler, não é compatível com o Convel.
Ao TRANSPORTES & NEGÓCIOS, Álvaro Fonseca manifestou a esperança de que o programa de renovação e ampliação da frota da CP, em curso, permita criar massa crítica para que os construtores decidam investir numa nova solução. Ainda assim, reconheceu, ainda demorará alguns anos.
Medway “já tem” solução
Carlos Vasconcelos, administrador da Medway, tem sido dos mais críticos da inexistência de uma solução para o sistema Convel, que tem impedido a empresa de investir, como pretendia, no reforço do seu parque de máquinas.
Mas o problema estará em vias de ser ultrapassado, avançou, ontem, em entrevista ao TRANSPORTES & NEGÓCIOS. Escusando-se a entrar em pormenores, gestor sempre disse que a solução – em que a própria Medway se envolveu – estará em vias de ser contratualizada.
De tal modo que, adiantou, a Medway se prepara para colocar a tão desejada encomenda de locomotivas eléctricas interoperáveis ainda no mês de Março. Carlos Vasconcelos não adiantou, porém, quantas unidades serão encomendadas, nem a que construtor.
Em Outubro do ano passado, a Critical Software anunciou uma solução tecnológica que “além de suportar o sistema requerido pela União Europeia, garante a compatibilidade com o sistema de protecção actualmente em uso a nível nacional”. Mas o sistema só deverá estar operacional em final de 2022, princípio de 2023.