Deverão Espanha e Portugal impulsionar conjuntamente os investimentos em infra-estruturas?
“Os governos português e espanhol deveriam aumentar os seus orçamentos para as infra-estruturas ferroviárias e portuárias” esta é a recomendação da Comissão Europeia. Os portos portugueses são considerados como potenciais hubs de importação europeus devido à sua localização geográfica na costa atlântica. Neste contexto, dever-se-ia apostar no investimento em infra-estruturas portuárias e ferroviárias.
O sistema ferroviário europeu transporta anualmente cerca de 1,6 mil milhões de toneladas de mercadorias. O transporte ferroviário é fundamental para a estratégia da União Europeia para um sector dos transportes mais sustentável, para a coesão económica e social e para a ligação dos países europeus dentro e entre os Estados-Membros.
Alguns dos principais corredores modais europeus ligam Portugal e Espanha, contribuindo assim para a melhoria das conexões entre o centro da UE e as suas regiões periféricas e para o reforço da posição da Península Ibérica como portal da Europa Ocidental.
Os principais corredores europeus que entram na Península Ibérica são dois: Corredor Atlântico e Corredor Mediterrânico. Se nos debruçamos sobre a rede ferroviária espanhola teremos o Corredor Atlântico, que liga a fronteira francesa de Irun/Hendaye a Portugal, via Vitoria, Burgos e Valladolid e ainda existe um ramal que vai para sul, via Madrid, para Lisboa e para o porto de Algeciras; e o Corredor Mediterrânico, que vai desde a fronteira francesa em Portbou/Cerbère até ao porto de Algeciras e Sevilha ao longo da costa mediterrânica, via Barcelona e Valência.
No caso de Portugal, o Corredor Atlântico inicia-se em Lisboa e no porto de Sines, seguindo para leste através de Espanha (via Badajoz-Elvas) e outro ramal vai para Aveiro e Porto, e depois para leste até Espanha via Vilar Formoso-Salamanca.
“A missão do Corredor Atlântico assenta, num primeiro plano, na rentabilização da infra-estrutura ferroviária existente, sem investimento adicional, através de uma gestão centralizada da atribuição de capacidade, da gestão de tráfego e do relacionamento com os clientes.”
Este projecto surge com o comum objectivo dos governos de Portugal, Espanha, França e Alemanha para o aumento da competitividade e da quota modal do transporte ferroviário internacional de mercadorias e, juntos, conseguir ultrapassar barreiras técnicas e operacionais. O Corredor Atlântico está integrado na Rede Transeuropeia de Transportes (RTE-T) e está ligado ao Corredor Mediterrânico e ao Corredor do Mar do Norte-Mediterrâneo. A extensão do Corredor Atlântico até à Alemanha permitirá ligações directas com outros dois corredores, o Reno-Alpes e o futuro Reno-Danúbio.
Totalizando mais de 6 200 km de extensão, destacam-se as principais características técnicas heterogéneas ao nível da infra-estrutura que necessitam de ser trabalhadas: bitola europeia (1 435 mm) em França e Alemanha, e bitola ibérica (1 668 mm) em Portugal e Espanha; troços electrificados com tensões distintas e diferentes sistemas de sinalização. O que se pretende com o Corredor Atlântico é, então, coordenar investimentos de modo a homogeneizar as características técnicas da infra-estrutura ao longo dos países parceiros neste projecto.
Os caminhos-de-ferro da UE continuam a crescer. Os mercados ferroviários estão a abrir-se gradualmente e os níveis de segurança permanecem elevados. Este sector é cada vez mais exigente em termos de desempenho, mais inovador e sensível às necessidades dos clientes.
A luta do transporte ferroviário para aumentar a sua quota modal continua a ser a interoperabilidade e as questões de coordenação transfronteiras. Os corredores são um elemento essencial da política da Comissão para impulsionar o transporte ferroviário de mercadorias. Se o sector conseguir convencer os transportadores a optarem pelas auto-estradas ferroviárias para reduzir os custos e os exportadores e importadores a transportarem as suas mercadorias para os portos por caminho-de-ferro, é provável que cresça nos próximos anos.
Todos estes temas são abordados em profundidade no curso de especialização Port2Rail que retoma este ano a sua realização em Lisboa, nos dias 7 a 9 de Outubro de 2019.
O principal objectivo é analisar os diferentes elementos que devem ser combinados para a prestação de serviços ferroviários-portuários e dar a formação e informação necessárias às pessoas que vão decidir e gerir cadeias logísticas em que o caminho-de-ferro pode ser uma rentável alternativa por serviço, custo ou tempo.
Organizado pela Escola Europea Intermodal Transport e o Intermodal Promotion Center de Portugal, e com o apoio da MEDWAY, o objectivo final é promover a utilização do transporte ferroviário, divulgando as suas características e
particularidades através de um curso que se realiza a bordo de um comboio da MEDWAY e presenciar as operações em primeira mão.
Empresas e entidades activas no sector como APAT, AGEPOR, APS e APDL participam e colaboram activamente no curso.
As inscrições para o Port2Rail estão abertas. Toda a informação aqui.
Raquel Nunes
No que respeita a Portugal, esperar e “ver para crer”.
Muitos discursos de boas intenções ao longo dos anos e, por enquanto, espreme-se e…nada. Note-se as promessas para a ferrovia no período até 2030: uma miséria.
Como se pode aceitar que a previsão de uma greve geral de camionistas, não só de cargas perigosas, faça tremer o governo e até um país? se as vias férreas que foram abandonadas e ou desmanteladas nas últimas décadas continuassem operacionais a quase total dependência do “motovia” para a movimentação das mais diversas mercadorias chegaria à situação actual? e que dizer da desertificação do chamado interior dum país que tem em média uns 200km de largura em toda a sua extensão? a quase inexistência operacional dos caminhos de ferro nesse “interior” não terá contribuído para essa desertificação?
Teremos sempre tempo de remediar os males referidos, nem que para isso tenhamos de ser “obrigados”, quanto mais não seja pela tão badalada União Europeia que recomenda, recomenda e…nada ou muito pouco no que a Portugal diz respeito.
Nota: considero que a eventual greve dos camionistas é justa e eles não estão na origem e por isso não serão culpados da força reivindicativa que têm: limitam-se a aproveita-la da forma que a lei lhes permite (não tenho familiar, parente ou qualquer amigo que seja camionista, para que fique bem claro; viajei profissionalmente muitos anos pelo mundo, tendo visto e aprendido como se pode “fazer melhor”, mesmo em países não muito ricos como Portugal…