Os credores dos Estaleiros Navais de Peniche aprovaram a proposta de recuperação da empresa apresentada pelo administrador judicial no âmbito do Plano Especial de Revitalização (PER), disse à “Lusa” fonte judicial.
O Plano de Revitalização, a que a “Lusa” teve acesso, deu entrada este mês no Tribunal de Alcobaça e propõe medidas de reestruturação financeira que assegurem o pagamento das dívidas aos credores, que permitam manter a actividade dos estaleiros e que reduzam a estrutura de custos.
O administrador judicial Jorge Calvete propôs um “programa de continuidade da empresa”, já que o passivo (cerca de 14 milhões de euros) é superior ao activo da empresa (6,1 milhões) e no cenário alternativo de liquidação não haveria recuperação total de créditos.
Por outro lado, justificou, a empresa tem vindo a reconstituir a sua carteira de clientes, tendo contratos fechados até Junho no valor de 3,2 milhões de euros.
Não só com a construção e reparação naval, mas também com o segmento de produção modular para a indústria de gás e petróleo e para o sector das energias renováveis, prevê facturar 6,2 milhões de euros em 2017 e 9,9 milhões de euros em 2020.
Depois de ter reduzido custos, sobretudo com pessoal, de 56 para 28 trabalhadores através de rescisões por mútuo acordo, o plano aponta também para a transformação da dívida de curto prazo em dívida de médio e longo prazo, para aumentar a liquidez da empresa.
“Com a manutenção da actividade e os lucros daí advindos, conseguirá pagar as dívidas aos credores”, conclui o administrador judicial.
O plano estabelece ainda o pagamento integral das dívidas ao Estado, aos trabalhadores, aos fornecedores e à banca.
Em 2014, os Estaleiros Navais de Peniche tinham uma dívida que ascendia a cerca de 14 milhões de euros, distribuídos pelo Estado (1,7 milhões), trabalhadores (800 mil euros), fornecedores (2,3 milhões) e banca (9 milhões), motivo pelo qual houve nesse ano a entrada de novos accionistas, a AMAL – Construções Metálicas, S.A. e a Ultra Ratio, S.A..
No final de 2014, a empresa atingiu um volume de negócios de 2,8 milhões de euros, registando uma quebra significativa face aos últimos anos (4,8 milhões em 2013 e 11,4 milhões em 2012) e fechou o ano com um prejuízo de 3,3 milhões de euros, superiores aos 1,5 milhões de euros negativos de 2013.
Apesar dos esforços de saneamento financeiro, de reinício de actividade e de procura de novas oportunidades de negócio, a empresa continuou a atravessar dificuldades, por não conseguir pagar aos fornecedores e por falta de investimento para executar encomendas, e em Março deste ano recorreu a tribunal a solicitar o PER, qualificando de “muito difícil” a sua situação económica.
As dificuldades da economia angolana “levaram à impossibilidade de abertura de cartas de crédito, o que inviabilizou o arranque das novas construções contratadas” por aquele país.
Sendo Angola o seu principal mercado, a empresa veio a deparar-se com “dificuldades na obtenção de negócio”, que agravaram os problemas que vinha a sentir desde 2014 devido à crise económica e financeira em Portugal.
A empresa possui mais de centena e meia de credores e dívidas de 20,6 milhões de euros, dos quais 674 mil euros aos trabalhadores, de acordo com a lista de credores que consta do PER.