A retirada do Ever Given demorou sete dias, uma eternidade, mas os efeitos do fecho do Canal do Suez no tráfego marítimo poderão prolongar-se por meses.
Finalmente, o Ever Given cedeu aos esforços de rebocadores, dragas e retroescavadoras e voltou a navegar, deixando o caminho livre para a retoma do tráfego de navios pelo Canal do Suez. E são mais de 350 à espera…
Mas a situação está longe de normalizada. Desde logo, para o navio da Evergreen, que será agora inspeccionado para avaliar se poderá seguir viagem ou, em alternativa, decidir o destino do navio e das cargas que transporta.
E serão precisos vários dias (seis pelo menos, diz a Maersk) para regularizar o tráfego no Suez. Num dia normal, entre 80 e 90 navios podem cruzar o canal. Mas as autoridades egípcias já disseram que a via navegável funcionará 24 sobre 24 horas o que, na prática, permitirá a realização de dois comboios em cada sentido (a viagem dura entre 10 e 12 horas). Importa, todavia, não esquecer que todos os dias chegam navios ao Suez…
Regularizada que esteja a navegação, ainda assim, haverá problemas que persistirão, por causa dos atrasos inevitáveis (no Suez e dos navios que foram desviados para a Rota do Cabo).
Lars Jenser, CEO da Sea Intelligence, fez na sua conta do Linkedin um resumo, não exaustivo, daquilo que, por exemplo, poderão esperar os importadores europeus (e os operadores portuários, já agora). Assim:
Actualmente, as chegadas dos navios [aos portos europeus] estão ainda normais, uma vez que os navios que agora chegam são os que passaram o Suez antes do fecho;
Dentro de alguns dias, as chegadas de navios descerão a pique, à medida que o impacte do fecho do canal se faz sentir. Isto demorará uma semana;
Depois disso, as chegadas de navios terão um pico, resultado da reabertura do canal, criando uma pressão significativa sobre os portos;
Depois ainda, notar-se-á uma nova quebra nas escalas. Porque os navios que deveriam chegar estarão atrasados por terem sido desviados à volta de África;
Finalmente, verificar-se-á um novo pico, com a chegada dos navios que percorreram a Rota do Cabo a acrescentar às dos navios que cumpram os horários normais.
Complicado? Em posts anteriores, Lars Jensen já havia dado uma ideia da complexidade da situação resultante do acidente do Ever Given, lembrando a falta de navios e de contentores, cheios e vazios, na Europa e na Ásia e as viagens em branco, não apenas no Ásia-Norte da Europa, mas em todos os tráfegos com exposição ao Suez, a pressão sobre os fretes,…
A normalidade poderá, assim, demorar vários meses. A MSC alertou para os impactes no segundo trimestre do que considerou “uma das maiores disrupções no comércio mundial nos anos recentes”.