Lisboa, a cidade animada, rica em cultura e cheia de vida, está à beira de uma crise de identidade. Entre as ruas pitorescas, debaixo dos novos restaurantes e dos modernos bares de cocktails e dos rooftops, há uma nova onda a emergir – a antipatia a tudo o que está de alguma forma relacionado com o turismo. Especialmente quando se trata de cruzeiros. O charme de um Tejo pacífico, sem “mastodontes flutuantes”, vale mais do que o benefício monetário que esses navios trazem à cidade? Talvez seja hora de fazer a pergunta novamente.
A hipocrisia de manter o turismo
Não deixa de ser estranho que, apesar de tanta gente se queixar do turismo em Lisboa, raramente se veem aqueles que abrem mão dos benefícios que esta atividade gera. A verdade é que, em grande medida, a economia da capital depende dos milhares de turistas que nos visitam todos os anos, particularmente dos que chegam em cruzeiros. E, na verdade, é muito fácil esquecer a importância dessa indústria quando não dependemos direta e imediatamente do salário, do emprego ou do negócio que dela deriva.
Mas a verdade é que os cruzeiros em Lisboa a uma escala solo representaram, em 2019, mais de 840 milhões de euros em volume de negócios, contribuíram com 336 milhões para o valor acrescentado nacional, e foram responsáveis pela manutenção de cerca de 8.863 empregos diretos, indiretos e induzidos. Mesmo correspondendo a apenas 0,16% do PIB de Portugal, esses números não deixam de ser impressionantes, beneficiando toda a cidade, seja pela criação de infraestruturas ou pela manutenção de pequenos negócios
O paradoxo dos benefícios
A degradação ambiental é o principal argumento dos críticos do turismo de cruzeiros. Sim, os navios de cruzeiro poluem, mas o setor tem feito grandes avanços em sustentabilidade, como o uso crescente de Gás Natural Liquefeito (GNL), que reduz as emissões de dióxido de carbono e enxofre. Além disso, o Porto de Lisboa está a investir em sistemas de Onshore Power Supply (OPS), permitindo que os navios desliguem os motores enquanto estão atracados, diminuindo ainda mais as emissões.
Apesar disso, as vozes contra os cruzeiros continuam a subir de tom. Às vezes esquecemos que, sem o turismo, muitos dos empregos que agora sustentam famílias inteiras simplesmente não existiriam. Os cafés e restaurantes onde gostamos de passar as longas tardes de verão, as lojas que trazem vida aos bairros históricos — todos eles prosperam, em maior ou menor grau, graças ao fluxo constante de turistas.
Um porto para todos (e não apenas para os navios)
Enquanto isso, o Porto de Lisboa tem canalizado as receitas provenientes dos cruzeiros não apenas para melhorar a infraestrutura do setor, mas também para projetos que beneficiam a população em geral.
Desde a construção de ciclovias até à requalificação das frentes ribeirinhas, o dinheiro gerado pelo atividade portuária, e também pelos cruzeiros, é investido em áreas de lazer e mobilidade, acessíveis a todos os cidadãos.
Importa não esquecer que, a partir de 1 de abril de 2024, Lisboa começou a aplicar uma taxa turística de dois euros por passageiro de cruzeiros, independentemente da duração da estadia nos navios. A Câmara Municipal de Lisboa espera arrecadar cerca de 1,2 milhões de euros anuais com essa taxa, aplicada previamente na venda, independentemente de os passageiros ficarem a dormir mais do que uma noite nos navios. Ou seja, dinheiro que “entra” e que pode ser utilizado na preservação de Lisboa.
…os cruzeiros ajudam a mitigar a sazonalidade do turismo. Enquanto muitos se queixam da invasão turística, os cruzeiros, ao contrário do turismo tradicional de verão, distribuem a chegada de visitantes ao longo do ano.
Por outro lado, especificamente do lado do porto, estas receitas desempenham um papel crucial na manutenção da segurança marítima. O investimento em operações de segurança, monitorização e assistência no porto é essencial para garantir a integridade das operações marítimas, protegendo tanto o meio ambiente quanto os passageiros e tripulações que passam pela cidade.
Para além das melhorias físicas, os cruzeiros ajudam a mitigar a sazonalidade do turismo. Enquanto muitos se queixam da invasão turística, os cruzeiros, ao contrário do turismo tradicional de verão, distribuem a chegada de visitantes ao longo do ano. Isso permite que a cidade evite sobrecargas nos meses mais movimentados e continue a beneficiar economicamente durante as épocas de menor afluxo.
Conclusão: aceitar o inevitável?
Podemos continuar a reclamar dos cruzeiros e a lamentar o tempo em que Lisboa era “nossa”, mas a verdade é que a cidade mudou – e grande parte dessa mudança deve-se ao turismo. Em vez de rejeitar os cruzeiros, talvez seja hora de reconhecer que, com todos os seus desafios, eles trazem benefícios significativos.
Afinal, é também graças a este setor que Lisboa continua a crescer, modernizar-se e oferecer uma melhor qualidade de vida aos seus habitantes. O dinheiro gerado pelos cruzeiros está a ser utilizado para a melhoria da cidade, e o impacto social e económico não pode ser ignorado. O Tejo cheio de navios é um Tejo que nos traz mais oportunidades e, ironicamente, uma Lisboa melhor para todos.
IRIS DELGADO
Mestre em Gestão Portuária, pela Escola Náutica Infante D. Henrique
Obrigado à dra. Irís Delgado pelo belíssimo artigo sobre impotância do Turismo em Lisboa e mais especificamente sobre terminal de cruzeiros. Muito obrigado por defender um setor económico TÃO FUNDAMENTAL para Lisboa e TODO Portugal, o país mais pobre da UE e de toda a EUROPA !!
Carlos Moedas, presidente de Lisboa, precisa de defender terminal cruzeiros assim como a sua electrificação para diminuir PEGADA ECOLÓGICA. O mesmo terá que defender Rui Moreira no Porto para acabar com poluicão atmosférica vinda dos grandes transatlânticos. Mas uma coisa é certa, o turismo limpo é insubstituível para Portugal no Continente e ilhas dos Açores e da Madeira !!!
Carlos Moedas, presidente de Lisboa, precisa de defender terminal cruzeiros assim como a sua electrificação para diminuir PEGADA ECOLÓGICA. O mesmo terá que defender Rui Moreira no Porto para acabar com poluicão atmosférica vinda dos grandes transatlânticos. Mas uma coisa é certa, o turismo limpo é insubstituível para Portugal no Continente e ilhas dos Açores e da Madeira !!!