Quadros da EMEF, engenheiros, nortenhos. Assim se poderia definir, simplificando, a maioria dos novos administradores da CP ontem nomeados pelo Governo.
A reintegração da EMEF na CP, anunciada pelo ministro das Infraestruturas para acontecer até ao final do ano corrente, já começou, mas no sentido inverso e pelo topo. O novo Conselho de Administração da CP que saiu do Conselho de Ministros de ontem integra quatro quadros que estão, ou estiveram, na empresa de manutenção de material ferroviário.
O novo presidente, Nuno Freitas, fez praticamente toda a sua carreira na EMEF (até sair para a Nomad Tech, ela própria uma joint-venture participada pela EMEF), e o vice-presidente, Pedro Moreira, era até agora director das oficinas dos Alfa Pendulares em Contumil.
Entre os vogais agora nomeados, Pedro Moreira foi até agora o responsável pela Direcção de Material do Porto na CP e Isabel Ribeiro, economista, tem a seu cargo a gestão de recursos humanos da EMEF Norte. A excepção é Ana Malhó, que transita do anterior Conselho de Administração.
Sem comboios na CP para responder às necessidades, e ainda com anos pela frente até que os novos (a encomendar) cheguem, o Executivo decidiu-se pelo reforço da actividade da EMEF, para manter em circulação o que há e recuperar o que for possível.
Uma aposta que se traduz também nas escolhas para o CA ontem anunciadas. Presidente, vice-presidente e um dos vogais, três em cinco elementos, são engenheiros, com carreira na gestão da manutenção dos Alfa pendulares e do material circulante da CP Porto.
Finalmente, um dado curioso e, quiçá, revelador: todos os novos administradores da CP são do Norte, do Porto, ou pelo menos ali trabalham.
Governo nega incompatibilidades
A nomeação de Nuno Freitas levantou algumas reservas pelo facto de o novo presidente da CP ser também accionista da Nomad Tech, a joint-venture da EMEF com Digital Nomad.
Em comunicado, o Gabinete do ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, garante que “A sua posição [de Nuno Freitas] na Nomad Tech, da qual detém como accionista 7% da empresa, foi devidamente avaliada pelo Executivo”, explica.
O Governo refere ainda que, “para acautelar todas as dúvidas que esta nomeação pudesse colocar”, foi pedido à Secretaria-Geral da Presidência do Conselho de Ministros para analisar, à luz de vários regimes (estatutos da CP, o Estatuto do Gestor Público, Regime Jurídico de Incompatibilidades e Impedimentos dos Titulares de Cargos Políticos e Altos Cargos Públicos) a nomeação.
“Concluiu-se que, salvaguardado o exercício do direito de escusa na tomada de deliberações por forma a evitar conflitos de interesses, não há razões para que a quota de 7% que detém na Nomad Tech fosse impeditiva da sua nomeação”, salienta.