Foi você que disse que foi um conserto? Ou isto tudo não passou de um concerto? Há muitas maneiras de consertar coisas, mas também há muitas maneiras de as desconsertar.
Como as coisas mudam e se “consertam”.
Ainda há bem pouco tempo na “Europa Ferroviária” se levou à prática a política da separação vertical, que consistiu na criação de duas entidades distintas, nomeadamente, o gestor da infraestrutura (porque assim permitiria mais operadores) e o operador ferroviário, de forma a separar a gestão das infraestruturas da prestação dos serviços e assim permitir mais concorrência, logo, mais negócio.
Claro que a França e a Alemanha, entre outros, por exemplo, não o fizeram, ou seja, consertaram esta norma europeia de uma outra forma. A opção foi criar uma holding, (A palavra holding tem origem inglesa e significa controlar, manter, guardar), uma Sociedade financeira que não produz bens ou serviços diretamente, mas que possui e gere participações em outras empresas com o objetivo de controlar a participação acionista maioritária. Ou seja, ela detém a maioria das ações de outras empresas e controla a sua administração e as suas políticas. Interessante!
…no top 5 das companhias marítimas que mais dinheiro ganharam no último ano, três [têm] no seu portfólio operadores ferroviários
Portugal e Espanha decidiram pela separação, acreditando que essa decisão iria permitir aumentar e crescer no transporte ferroviário com o surgimento de operadores privados, nomeadamente de mercadorias. Entretanto, em Espanha surgem uma série de operadores privados e em Portugal apenas um, sempre com a companhia do chamado operador incumbente, Renfe e CP-Carga, respetivamente. O que é facto é que nem assim o transporte de mercadorias por ferrovia cresceu e aumentou a quota de mercado. Recordo-me de, por essa altura, em conversas de tertúlias de amigos, falarmos que uma das possibilidades era a criação de uma empresa de Portos e Ferrovia, até porque já era evidente algum crescimento na ferrovia sempre que esta se juntava às “cargas marítimas”.
Hoje, paradoxalmente, assistimos a empresas ligadas ao tráfego marítimo, sejam operadores portuários ou companhias marítimas. que olham para a ferrovia com elevado potencial para fazer alargar a sua área de influência e conseguir com isso mais negócio. Vejamos, o interesse da APDL no Porto Seco da Guarda, estando mesmo na disposição de gerir igualmente o de Leixões, constituindo-se assim como o gestor das plataformas rodo-ferroviárias, até agora, da IP (Gestor da Infraestrutura).
Não sei, se porque sim ou porque não, ou porque o Ano 2021 foi o ano da Ferrovia na Europa, depois de vermos participações de operadores logísticos em operadores ferroviários, assistimos, quando em crises sistémicas, aos armadores a adquirirem operadores ferroviários. Em tempos, a MSC avançou para a CP Carga, em 2020 a CMA-CGM avançou para a Continental Rail, e muito recentemente a COSCO para a Logitren.
Atentemos ao quadro infra e à particularidade de no top 5 das companhias marítimas que mais dinheiro ganharam no último ano três terem no seu portfólio operadores ferroviários. Se fossemos comparar igualmente se são operadores portuários, a surpresa seguramente não seria grande.
Paradoxalmente. serão as companhias marítimas que conseguirão fazer crescer o transporte ferroviário de mercadorias, pelo menos e para já na Ibéria, consertando o desconserto?
NABO MARTINS