2024 vai ser um ano exigente para os Transitários e para as empresas em geral, a todos os níveis. Serão vários os desafios e oportunidades exigindo que todos estejamos focados nas soluções que nos podem ajudar a encarar o futuro próximo com um otimismo moderado, sempre com a cautela que se impõe pela instabilidade na conjuntura interna e externa.
Assistimos a uma sequência de situações todas de sinal negativo, como os conflitos e guerras na Palestina e Ucrânia. A incerteza geopolítica resultante de conflitos armados pode afetar a confiança dos investidores e das empresas, levando a uma redução do comércio internacional e do investimento em infraestruturas de transporte. Isso vai resultar numa desaceleração do crescimento do mercado de logística e transportes na Europa e a nível global.
Como estamos a verificar, conflitos e instabilidades em regiões-chave podem afetar as rotas de transporte terrestre, marítimo e aéreo, levando a interrupções e atrasos nas operações logísticas. Impactando o fluxo de mercadorias e causando desafios significativos para as empresas de transporte e logística.
As questões relacionadas com a segurança e a estabilidade geopolítica estão a provocar um aumento dos custos operacionais para as empresas de transporte, devido à necessidade de medidas adicionais de segurança e à crescente volatilidade nos preços dos combustíveis e das taxas de seguro.
Por outro lado, a envolvência política nacional vai propiciar mais decisões adiadas, objetivamente, ao nível de investimentos críticos para o país. Salva-nos a exigência da União Europeia, que “obriga” o governo a tomar decisões para não perder o acesso a fundos.
Olhando para o panorama nacional, é preocupante que a insegurança e incerteza continuem a ser as maiores condicionantes nas estratégias das nossas empresas. Trabalhamos com a certeza de serem muitas as dúvidas a nível politico, com influência no ambiente regulatório e económico, com enormes repercussões na sustentabilidade e, consequentemente, no crescimento e evolução de milhares de empresas.
A conectividade é obrigatoriamente um objetivo estratégico que, ainda que envolva várias legislaturas, o Governo a ser eleito no próximo mês de Março tem de interiorizar e proporcionar que os investimentos público e privado se complementem e contribuam para que essa conectividade passe a ser um dado adquirido em vez de um objetivo aparentemente utópico e inatingível.
O ecossistema logístico nacional ainda tem muito caminho a fazer para poder influenciar de modo positivo o crescimento económico. Portugal padece de insuficientes ligações marítimas, ferroviárias e aéreas. O país deve focar-se nas necessidades logísticas da economia nacional e em concretizar políticas de investimento norteadas pela visão holística do ecossistema logístico nacional.
Há ainda muito para fazer nas infraestruturas e infoestrutura. Por outro lado, novos desafios surgem a nível dos recursos humanos com novas realidades e ambientes de trabalho que chocam com tudo o que estávamos habituados antes do surgimento da pandemia.
A nossa expetativa é que sejam melhoradas as condições nos terminais de carga dos aeroportos de Lisboa e do Porto. Infraestruturas pendulares para o crescimento da nossa exportação de produtos e serviços de alto valor. Sim, esses mesmos que permitem que as empresas suportem massas salariais muito mais atraentes e que fixam a nossa mão-de-obra.
…o Governo a ser eleito no próximo mês de Março tem de interiorizar e proporcionar que os investimentos público e privado se complementem e contribuam para que [a] conectividade passe a ser um dado adquirido em vez de um objetivo aparentemente utópico e inatingível.
Precisamos de uma reorganização do Estado, criando uma secretaria de Estado, ou mesmo uma Direção Geral para a Logística e Transportes, tendo a responsabilidade e competências que lhe permitam ter a sob a sua alçada as decisões estratégicas sobre todo o sector, envolvendo a totalidade dos meios de transporte. Recentemente, com as questões logísticas levantadas pela pandemia, ficou bem provada esta necessidade de termos uma integração de todos os meios num só organismo.
Os Transitários irão ajudar a ultrapassar estes desafios, focando-se em fatores-chave como a inovação tecnológica, a sustentabilidade, a adaptabilidade, colaboração e parcerias e qualificação e formação.
A capacidade de adotar e integrar tecnologias avançadas, como sistemas de rastreamento e monitorização, inteligência artificial e plataformas digitais, será crucial para a eficiência operacional e a prestação de serviços de alta qualidade. A inteligência artificial (IA) pode desempenhar um papel crucial na superação das principais ameaças ao crescimento dos transitários em Portugal, fornecendo soluções inovadoras e estratégias de mitigação de riscos.
Pressões crescentes para reduzir as emissões de carbono e adotar práticas sustentáveis exigirão investimentos em tecnologias mais limpas e processos ecologicamente amigáveis, representando desafios financeiros e operacionais. O foco na sustentabilidade ambiental e na redução das emissões de carbono será um diferencial importante, à medida que as preocupações com o impacto ambiental se intensificam. A implementação de práticas ecológicas e o uso de tecnologias verdes serão valorizados.
Alterações nas regulamentações comerciais e aduaneiras, tanto a nível nacional como internacional, podem exigir adaptações operacionais e administrativas significativas, aumentando a complexidade e os custos operacionais. A adaptabilidade, a capacidade de se adaptar a mudanças na envolvente bem como a eventos imprevistos, como pandemias ou conflitos, será fundamental para a resiliência e o sucesso a longo prazo.
O estabelecimento de parcerias estratégicas com outras empresas de logística, transportadoras, autoridades aduaneiras e clientes será essencial para expandir a rede de serviços e oferecer soluções integradas.
O investimento na formação e qualificação dos colaboradores para garantir competências atualizadas em logística, regulamentação aduaneira, gestão de riscos e tecnologia será um fator crítico para o sucesso. No âmbito da formação oferecida pela APAT, o objetivo de crescimento com dois grandes vetores – formação presencial e online e e-learning – é uma iniciativa promissora. A disponibilização de mais cursos presenciais e online, juntamente com a expansão do e-learning, oferecerá oportunidades de aprendizagem mais abrangentes e acessíveis para os profissionais do sector. Isso contribuirá para o aprimoramento das competências e conhecimentos necessários para enfrentar os desafios em constante evolução da logística internacional.
A concorrência de empresas de logística internacionais representa um desafio significativo para os transitários portugueses, exigindo que demonstremos diferenciação e eficiência para manter e expandir a nossa participação no mercado. A capacidade de entender as necessidades dos clientes, oferecer soluções personalizadas e proporcionar uma experiência excecional será fundamental para manter a fidelidade do cliente e atrair novos negócios.
Apesar dos tempos conturbados que prometem fazer correr muita tinta, os Transitários, os nossos quadros e os nossos gestores, mais uma vez saberão estar à altura dos acontecimentos, demonstrando outra vez que o nosso destino passará sempre por encontrar soluções independentemente do contexto e da conjuntura.
É nosso dever contribuir para o esforço de recuperação do país sendo mais e melhores intervenientes naquele que deve ser abordado como sector fundamental para todas as atividades económicas, sobretudo pela sua transversalidade, muito particularmente, pela importância que tem para uma economia aberta como a nossa, a logística internacional.
* Título da responsabilidade da Redacção
PAULO PAIVA
Presidente da APAT