O Eixo Atlântico reclama de Espanha que altere a tensão eléctrica na ferrovia entre Guillarei e Tui para melhorar a ligação Portugal – Galiza, porque a Alta Velocidade não substituirá a Linha do Minho.
“A ligação ferroviária Porto e Vigo era [há 10 anos, quando foi criado o comboio Celta] uma ferida grave. A viagem demorava mais de três horas e esteve para ser suprimida. Com o Celta, colocou-se um penso para estancar o sangue, mas não se tratou da ferida”, assinalou o secretário-geral do Eixo Atlântico do Noroeste Peninsular, organização que junta 39 concelhos do Norte de Portugal e da Galiza, citado pela “Lusa”.
O responsável do Eixo Atlântico falou à “Lusa” a propósito dos 10 anos da ligação entre Porto e Vigo através do comboio Celta, que desde 2013 reduziu a viagem de mais de três horas para cerca de duas horas e meia, com paragens em Valença, Viana do Castelo e Nine.
“O problema são as frequências: só há duas diárias. Os comboios continuam a ser diesel da série 592, porque o traçado não está electrificado com a mesma voltagem. Se a linha estivesse electrificada com a mesma voltagem em Portugal e Espanha, haveria comboios eléctricos, teria mais unidades e poder-se-ia ligar com Lisboa, em vez de a ligação da Galiza terminar no Porto”, vincou.
Assim, a “única solução” para a ligação entre o Porto e a Galiza é, diz Xoan Mao, que “Espanha mude a electrificação dos oito quilómetros entre Guillarei e Tui para a tensão portuguesa”.
“Se a electrificação espanhola [do troço Guillarei-Tui] tivesse sido feito à mesma potência da portuguesa [concluída em 2021], o actual Intercidades da Linha do Minho podia ter ligação até à Corunha. Podia haver uma ligação entre Lisboa e a Corunha sem mudar de comboio, mas a electrificação [daquele troço] foi pensada nas mercadorias espanholas, não nos passageiros”, lamentou.
Para o responsável, “o problema é o desinteresse, sobretudo do governo espanhol, que levou a que o provisório se tornasse definitivo”.
Outro “problema sério” é a “pressão do lobby dos autocarros privados”. “Temos um problema sério. Não se investe no comboio por pressão das linhas privadas de autocarro – que é o que se tem de apanhar para fazer o percurso entre Vigo e o aeroporto Francisco Sá Carneiro”, no Porto, observou.
Xoan Mao assinalou que “o comboio Celta foi a linha que mais cresceu em número de utentes”, sendo “muito usado porque é a única alternativa fora de estrada”. “As alternativas que passam pela estrada e não pela ferrovia não param em cidades intermédias”, alertou.
É por isso que, disse, será preciso manter e melhorar esta ligação entre Portugal e Galiza, uma euro-região que concentra uma população de 6,4 milhões de habitantes e tem cerca de 14 mil trabalhadores transfronteiriços.
A nova linha de Alta Velocidade entre o Porto e Vigo, que prevê paragens no aeroporto Francisco Sá Carneiro, em Braga e Valença, “não serve os utentes da linha do Minho”, nomeadamente a população de Viana do Castelo, Caminha ou Vila Nova de Cerveira, assinalou o secretário-geral do Eixo Atlântico.