As sete empresas públicas de transportes que actuam nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto estão em falência técnica. Os juros da dívida chegam a superar o volume de negócios.
No final de 2009, os capitais próprios da CP, Metro do Porto, Metro de Lisboa, STCP, Carris, Soflusa e Transtejo ascendiam a 3,8 mil milhões de euros negativos. A CP era a campeã, com 2,2 mil milhões (negativos, claro), seguida da Carris (734 milhões), do Metro de Lisboa (333 milhões) e da STCP (267 milhões).
Para repor os capitais próprios e os capitais sociais das empresas (2,9 mil milhões de euros entretanto exauridos), o Estado terá de investir 6,7 mil milhões de euros. A CP reclama a fatia de leão, com mais de 4,2 mil milhões de euros, seguida da Metro de Lisboa (937 milhões) e da Carris (898 milhões).
Os dados constam do Parecer sobre a Conta Geral do Estado de 2009, ontem publicado pelo Tribunal de Contas.
Em 2009, e considerando apenas os custos operacionais, cada passageiro transportado custou 2,90 euros à Metro do Porto, 1,79 euros à Soflusa, 1,46 euros à Transtejo, 94 cêntimos ao Metro de Lisboa, 75 cêntimos à SCTP e 63 cêntimos à Carris.
Somando-lhe os custos financeiros e descontando as receitas, constata-se que cada passageiro representou para a Metro do Porto um prejuízo de 2,63 euros. De longe o pior resultado, explicado em boa parte pelo facto de a estrutura de financiamento da empresa assentar quase exclusivamente no endividamento bancário, como sublinha o Tribunal de Contas.
Nas outras empresas, os prejuízos por passageiro são substancialmente menores: 96 cêntimos na Transtejo, 84 no Metropolitano de Lisboa, 32 na Soflusa, 18 na SCTP ou 17 na Carris. Mas a comparação deve ter também em conta o número total de passageiros transportados (que no Metropolitano de Lisboa é muito maior que no Porto, por exemplo, destaca o TC). Neste caso, o Tribunal de Contas não considerou a CP.
Anualmente o Estado atribui às empresas compensatórias, mas a verdade é que não chegam para cobrir as perdas operacionais. Entre 2007 e 2009, superaram os 81% na Carris, mas não chegaram aos 12% na Metro do Porto. Na SCTP chegaram quase aos 60% mas no Metropolitano de Lisboa ficaram-se pelos 31%. Também aqui não foi considerada a CP.
Todas as sete empresas consideradas estavam no final de 2009 fortemente endividadas. Sem considerar a CP, o passivo total superava em todas o activo total: mais de cinco vezes na Carris, mais de quatro na STCP, mais de duas na Transtejo, sempre mais de uma vez na Soflusa, Metropolitano de Lisboa e Metro do Porto.
Os juros da dívida pagos entre 2007 e 2009 absorveram 5,5% do volume de negócios e das indemnizações compensatórias da Soflusa, 16,4% no caso da STCP, 21,1% na Carris, 24,8% na Transtejo, 88,6% no Metropolitano de Lisboa e 133,4% na Metro do Porto…