O Estado “não deve investir” num novo porto de mar, antes deve apostar na interligação e desenvolvimento dos actuais portos para servir o hinterland, e na expansão de Sines como porto de transhipment. Dito por outras palavras, o terminal de contentores do Barreiro não deve ser feito, conclui um estudo promovido pela Associação Comercial do Porto (ACP).
O trabalho “Terminais Portuários e Infraestruturas Logísticas em Portugal – análise de oportunidade para construção de um novo terminal de águas profundas” foi desenvolvido pelo Centro de Estudos em Economia e Gestão da Universidade Católica Portuguesa, no Porto, e pela consultora de transportes e território TRENMO, sob orientação de Álvaro Nascimento e de Álvaro Costa.
A realização do estudo teve ainda a orientação de um Conselho Consultivo integrado por Valente de Oliveira, ex-ministro do Planeamento, Ricardo Fonseca, ex-presidente da APDL, Alberto de Castro, investigador e docente universitário, Matias Ramos, bastonário da Ordem dos Engenheiros, Vieira dos Santos, presidente da Comunidade Portuária de Leixões, e João Pedro Araújo, empresário com ligações ao shipping e ao porto de Leixões. Além do presidente da ACP, Nuno Botelho.
Sustentando que “o sistema portuário nacional actual tem condições — i.e., capacidade — para servir adequadamente as plataformas logísticas que se organizam de Norte a Sul do país”, pelo que não há “necessidade urgente de investir em novas infraestruturas portuárias marítimas”, o trabalho admite apenas que “investimentos incrementais no desenvolvimento dos terminais portuários — como em Leixões — podem ser necessários para ultrapassar estrangulamentos de capacidade instalada”.
“A melhoria da conectividade entre os portos de mar em Portugal, pelo lado terrestre, permitiria reforçar a coesão e a importância do sistema
‘multi-port-gateway’, oferecendo condições para aumentar a competitividade empresarial por via da complementaridade e da flexibilidade da oferta existente nos vários terminais portuários”, sustenta.
Focando no caso de Lisboa, o estudo analisa as hipóteses de expansão dos terminais da capital, e também de Setúbal, a par dos anunciados projectos do Barreiro / Trafaria, para concluir que os terminais existentes são melhores que os falados, que o porto da foz do Sado pode igualar o actual porto de Lisboa (em termos de capacidade) com um investimento reduzido, e que só mesmo no caso de encerramento de Alcântara se justificará um novo terminal – ainda que mesmo aí Setúbal, Leixões e Sines tendessem a colmatar as dificuldades.
Já no caso de Sines, nota, “a posição na fachada Atlântica permite que Sines possa reforçar o seu papel enquanto porto para centralizar as operações de ‘transhipment’ em Portugal”, sendo “possível reforçar a integração de Sines no sistema portuário nacional melhorando a conectividade com os restantes portos, por via marítima e terrestre”.
“Aumenta-se, assim, a importância desta região ‘multi-port-gateway’, com benefícios para a competitividade empresarial, o desenvolvimento e a coesão de todo o território nacional”, sustenta.
Segundo reforça o estudo da ACP, “assistindo-se a um aprofundamento das estratégias das companhias de navegação que escolhem Portugal como plataforma central para organização das suas operações — i.e., transhipment — deve o Estado responder com a disponibilização de Sines, por ser a alternativa economicamente mais vantajosa”, pelo que um “eventual reforço de capacidade em Sines e as ligações ao hinterland de Espanha devem ser equacionados”.
Entre as recomendações do trabalho está também o assegurar de “ligações marítimas regulares e eficazes entre Portugal e os portos centrais âncora das rotas intercontinentais”, o envolvimento das “autoridades portuárias na gestão da cadeia logística” e a concepção de um “modelo de concessão que reduza a vulnerabilidade dos portos, mitigando a sua exposição ao risco de alteração de estratégia das companhias de navegação”.
O estudo promovido pela Associação Comercial do Porto vem a público num momento em que se aguarda da ministra do Mar, Ana Paula Vitorino, o anúncio das opções de investimento no sector marítimo-portuário eleitas pelo actual Executivo.