A guerra comercial entre os Estados Unidos da América e a China, o impacto do combate à pandemia do Covid19 e a segunda invasão da Ucrânia pela Rússia têm alterado, ao longo dos últimos anos, a vida nos países ocidentais.
Embora estes acontecimentos não tenham ocorrido em simultâneo, mas sim no decurso dos últimos anos, eles evidenciam a velocidade com que a nossa realidade se altera, assim como a necessidade de as sociedades se adaptarem, com celeridade, às novas realidades.
As medidas legislativas de proteção aduaneira à importação e exportação de bens e mercadorias, a disrupção do processo logístico de abastecimento a nível mundial, as sanções impostas à Rússia pela nova invasão da Ucrânia e, ainda, o objetivo político da União Europeia de se dotar de autonomia estratégica, incluindo no setor energético, têm levado os países ocidentais a procurar novas soluções para o abastecimento das suas economias.
Daí os termos “Friendshoring” and “Nearshoring” serem conceitos muito atuais e que constituem um desafio aos países e às empresas. A chamada globalização passa hoje por um processo de substituição e já não como anteriormente por um processo de negociação.
Por um lado, as empresas e os Estados procuram transferir as suas atividades, atualmente situadas em geografias que já não garantem segurança (preço, tempo e condições de trabalho), para países próximos geograficamente, de preferência localizados dentro da mesma região ou continente, ou, em alternativa, para países fora dessa região ou continente, mas ainda na sua vizinhança (Nearshoring).
No caso de Portugal, existem países que pela sua proximidade geográfica ou linguística, poderão vir beneficiar desta nova tendência.
Por outro lado, nesse processo de procura é importante encontrar países que partilhem laços culturais e linguísticos e com os quais seja possível desenvolver parcerias mais profundas, que passam pela aceitação do modelo de desenvolvimento dos países fornecedores, o que facilitará a promoção de uma colaboração e uma troca de conhecimentos mais aceleradas (Friendshoring).
Os processos de relocalização de unidades de produção são muito complexos e de elevado risco. Em primeiro lugar, porque o país ou região fornecedor(a) e que se pretende abandonar torna-se fundamental na fase de transição. Em segundo, porque podem, também, tornar-se objeto do interesse de concorrentes que não perdem tempo com a curva de aprendizagem dos processos.
Mais difícil ainda é o processo de substituição dos fornecedores de matérias-primas. Em muitos casos, muitos fornecedores irão manter-se dada a maior dificuldade em encontrar fornecedores alternativos noutras geografias mais próximas que garantam qualidade, credibilidade e um baixo risco de oportunidade.
No caso de Portugal, existem países que pela sua proximidade geográfica ou linguística, poderão vir beneficiar desta nova tendência. Será interessante perceber se estarão preparados para captar estas novas unidades e, se sim, em que condições. Será uma oportunidade única de virem a ser partícipes de uma nova fase da economia ocidental.
Para os operadores logísticos, os processos de relocalização obrigam à procura de novas soluções viáveis em termos de preço, segurança e regularidade.
Em suma, vivemos um tempo de riscos, em que os Estados e as empresas necessitam de investir seriamente em equipes com experiência e capacidade internacional para os ajudarem na transição para esta nova realidade .
PEDRO MONJARDINO
Strategio Consulting
p.monjardino@gmail.com
Como sempre muito bem dito Pedro – parabéns