O gás natural é a alternativa viável para a descarbonização da mobilidade a curto prazo, permitindo a introdução gradual de gases renováveis, em particular nos veículos pesados e no sector marítimo.
A conclusão impõe-se no final do dia dedicado a Portugal na Green Gas Mobility Summit, promovida pela Gasnam, e que reuniu dirigentes, especialistas e gestores dos sectores da mobilidade e do shipping.
A sessão iniciou-se com João Bernardo, Director Geral de Energia e Geologia, a apresentar a Estratégia Nacional para o Hidrogénio, destacando a sua importância para a redução da dependência energética de Portugal (que em meados da década de 90 ultrapassou os 90%). A propósito, lembrou o acordo de ontem, entre Portugal e a Holanda, para o fornecimento de hidrogénio de Sines a Roterdão.
No painel dedicado à mobilidade limpa, Nuno Moreira, presidente da Dourogás (membro da Gasnam) apresentou a estratégia de investigação e inovação na produção e na utilização dos gases renováveis nos transportes e destacou a possibilidade de acelerar a descarbonização do transporte rodoviário pesado com a introdução do biometano e do hidrogénio em largos sectores da mobilidade.
Preparando esse caminho, os postos de abastecimento da Dourogás já estão aptos a disponibilizar o hidrogénio, salientou.
Tratando-se da transição energética, Inês Santos, Directora de Estratégia da Galp, realçou o papel do gás natural na introdução de combustíveis de baixo carbono no mix energético de Portugal, sendo certo que a prazo deverá ser substituído por um mix de electricidade, gases renováveis e hidrogénio.
A Carris está empenhada na eliminação integral das emissões de carbono a nível local até 2040, e daí que se proponha testar autocarros a hidrogénio e integrá-los na sua frota quanto a tecnologia estiver madura. No entretanto, salientou António Pires, administrador da operadora, a aposta é no gás natural, pelo menos até 2025/2030, tendo em curso a aquisição de mais 70 autocarros.
Sandra Resende, Directora Geral da Iveco, apresentou a evolução previsional da tecnologia da sua oferta de veículos, e destacou a compatibilidade da gama actual com os gases renováveis, em particular o biometano.
A fechar a sessão, Ruben Eiras (Fórum Oceano), José Carlos Simão (DGRM), Duarte Lince de Faria (Porto de Sines) e Pedro Frazão (Grupo Sousa) falaram de Green Shipping.
Ruben Eiras elencou as componentes de uma estratégia de Green Shiping, destacando a adopção de sistemas de propulsão e combustíveis com reduzidas emissões de CO2 e outros GEE, a difusão de sistemas de abastecimento de energia power-to-shore e um sistema de reciclagem de navios respeitador do ambiente.
O Green Shipping é uma linha de estratégia da DGRM, referiu José Carlos Simão, de acordo com as recomendações da IMO, e em linha com os objectivos da União Europeia que, lembrou, são ainda mais ambiciosos, nomeadamente ao proporem reduções de emissões de gases de efeitos de estufa e de enxofre em
até 50% até 2030.
Também aqui, sublinhou, o GNL é uma tecnologia que está disponível e que reduz de forma muito significativa as emissões de NOx e SOx, sendo uma boa fonte energética de transição.
Duarte Lynce de Faria referiu a primeira experiência de abastecimento de GNL a um navio realizada em Sines, num processo Truck To Ship, comparando com a realidade espanhola no domínio do bunkering, e defendeu a necessidade de existência de mercado para viabilizar os investimentos em infra-estruturas.
A propósito, Pedro Frazão lembrou que o Grupo Sousa já soma 13 operações de abastecimento de GNL ao navio de cruzeiros AIDA Prima no Funchal.
Já na perspectiva de operador de transporte marítimo, o administrador do grupo madeirense salientou que o shipping está, há 10 anos, imerso num grande processo de transição energética, o que é um desafio à gestão já que os navios têm longevidades de mais de 25 anos. Rematou lembrando que não existe ainda nenhum combustível viável para atingir os objetivos da IMO para 2050.