António Costa salientou hoje que o Governo ultrapassou “a alergia” de Bruxelas aos investimentos em novas rodovias no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
Falando no final da sessão de apresentação dos investimentos em infra-estruturas previstos no PRR, o primeiro ministro defendeu que o investimento de 520 milhões de euros em múltiplas pequenas obras rodoviárias um pouco por todo o país “terá um impacto profundo económico, porque dinamizará pequenas e médias empresas e gerará emprego disseminado” no território nacional.
“Foi uma negociação difícil e queria felicitar particularmente o ministro do Planeamento, depois de largos anos de experiência nestas negociações com Bruxelas, onde se desenvolveu uma alergia em relação às estradas e a ideia de que este país tem estradas a mais. Mas a verdade é que o país tem de optimizar a sua rede viária, dotar o território de boas ligações transfronteiriças e conferir às áreas de localização empresarial condições de competitividade”, sustentou o primeiro-ministro.
No seu discurso, António Costa procurou relacionar também estas obras rodoviárias com o objectivo estratégico de redução das emissões de gases com efeito estufa “ao encurtarem-se distâncias e ao desviar-se o trânsito do centro de centros urbanos como nos casos das variantes de Olhão ou Évora”.
“A única grande via é de Beja a Sines, todas as outras intervenções são de poucos quilómetros, mas são pequenas grandes obras que transformam radicalmente um território”, advogou, antes de salientar o impacto que essas obras terão no território, sobretudo ao nível da competitividade das pequenas e médias empresas.
“Se tivéssemos pegado nestes 500 milhões de euros e feito uma grande obra, teríamos seguramente gerado atividade económica, mas não teria esta profundidade de chegar a quase todo o território nacional”, alegou.
Em defesa desta estratégia por parte do seu Executivo, António Costa considerou que “não é pelo facto de agora se estar a falar de 500 milhões de euros, num total de 14 mil milhões de euros [do PRR], que estas obras são menos importantes do que outras que a Infraestruturas de Portugal fez no passado”.
“Estas são obras mesmo decisivas para melhorar a competitividade e a coesão territorial do país, para que existam áreas de localização empresarial mais competitivas e melhores acessos transfronteiriços, ao mesmo tempo em que se desvia dos centros urbanos grande parte do tráfego que continua a prejudicar a qualidade de vida” dos cidadãos, argumentou.
Entre os vários projetos, António Costa destacou as cinco novas ligações transfronteiriças – ponto em que retomou a sua tese sobre a “centralidade” do interior do território nacional face ao mercado ibérico, que tem 60 milhões de consumidores.
Articulação entre ferrovia e rodovia
Antes, o ministro das Infraestruturas disse que a articulação entre a rede rodoviária e ferroviária “é fundamental”.
“É óbvio e evidente que a rodovia hoje funciona também como uma infra-estrutura que complementa o investimento ferroviário que vamos fazendo. […] Esta articulação é fundamental, ela funciona bem”, afirmou Pedro Nuno Santos.
Antes ainda, o presidente da IP, António Laranjo, apresentou o plano de investimentos na rodovia, que preconiza 520 milhões de euros no total, em “projectos de investimento com dispersão geográfica muito abrangente, com carácter estratégico, mas de âmbito quase cirúrgico”, disse.
Do total previsto, 313 milhões destinam-se a investimentos em “missing links” e aumento de capacidade da rede, 65 milhões para ligações transfronteiriças e 142 para vias de acolhimento empresarial e acessibilidades rodoviárias.