O ITF aconselha aos governos cuidado com os resgates que possam realizar às companhias de transporte marítimo de contentores endividadas.
Num relatório agora publicado, o ITF (Fórum Internacional dos Transportes) refere o barómetro Altman Z-Score e lembra que o elevado nível de endividamento das companhias de transporte marítimo de contentores cria riscos de insolvência. “Qualquer resgate ao sector deve abordar a passagem desse riscos para o público”, alerta.
A dívida acumulada das 14 companhias de transporte marítimo de contentores que publicam os seus dados financeiros atingiu 95 mil milhões de dólares (87,7 mil milhões de euros) no terceiro trimestre do ano passado, quando, em 2010, era de 76 mil milhões (70 mil milhões de euros), segundo dados divulgados no relatório.
O documento aponta riscos económicos e ambientais dos apoios públicos às companhias. Sobre o primeiros, o ITF avisa para o que considera um “risco moral”. A entidade considera que há “a probabilidade de um resgate aumentar o risco das companhias para níveis que seriam considerados insustentáveis se não houvesse apoios públicos”. O relatório conclui que esse é um perigo real no sector. “Várias companhias têm capital circulante negativo e as principais companhias de contentores puderam contar com o apoio dos governos na história recente, com a notável excepção da companhia coreana Hanjin, em 2016”.
O documento alerta, além disso, para a ameaça em termos de mudanças climáticas, problemas para a saúde devido à poluição atmosférica e os riscos de financiamento da infra-estrutura pública. O desvio das rotações do navios pelo Cabo da Boa Esperança para evitar o Canal de Suez é dado como exemplo. “Essa externalização de riscos foi facilitada por isenções fiscais de combustível naval, exclusão do transporte de mercadorias em iniciativas de taxação de carbono e generosas isenções de taxas por parte de gestores de infra-estrutura – como autoridades portuárias e de canais – para serem mais atractivos do que o concorrente. A companhia de transporte pode reduzir os seus custos, mas, no processo, aumenta os custos para a sociedade”, acusa o ITF.
Outra preocupação levantada no estudo é descrita pelo organismo como uma “corrida para o abismo”, em que o desejo dos governos de proteger as suas frotas causa um ciclo vicioso de competição regulatória pelos subsídios e isenções fiscais mais generosos.
“Os governos devem usar a alavancagem económica da crise da Covid-19 para abordar essas preocupações. As acções podem incluir o encerramento de paraísos fiscais, a redução de isenções e a introdução do comércio de emissões de carbono para o transporte marítimo. Os governos também podem deter a concorrência desleal de companhias isentas de impostos com empresas não isentas de impostos no que diz respeito às actividades de logística”, conclui o ITF.
O relatório insta os governos a estimular um modelo de transporte de contentores mais resistente à crise, que inclui condições claras em relação ao valor que o sector cria para a sociedade, abraça a sustentabilidade ambiental e internaliza custos e riscos externos no preço do transporte oceânico em contentor.
O actual excesso de oferta de navios pode tornar-se ainda mais problemático, alerta a entidade. O relatório indica que o capacidade da frota mundial de porta-contentores deve aumentar 5% em 2020 e 3% em 2021, com base na actual carteira de encomendas de navios. No entanto, a procura por transporte marítimo de contentores pode cair de 10% a 30%. Se os volumes globais de transporte de contentores se contraírem 11% em 2020, conforme indica o outlook do FMI, mesmo que o sector pare 15% da sua frota, isso será insuficiente para garantir o equilíbrio, aponta o ITF.