As obras do “novo” Canal do Panamá podem ter terminado mas as polémicas ainda não. Agora é a Federação Internacional dos Trabalhadores dos Transportes (ITF) a questionar a segurança da navegação. A Autoridade do Canal do Panamá (ACP) contesta e desvaloriza.
Será um porta-contentores da Cosco, de 9 500 TEU de capacidade, o primeiro a cruzar o “novo” Canal do Panamá. A inauguração será a 26 de Junho, a passagem pode envolver alguns riscos, de acordo com um estudo encomendado pela ITF à Fundação Homem de Mar (FHM).
O estudo da instituição brasileira conclui que as novas eclusas são demasiado pequenas para uma operação segura (com ambas as comportas fechadas); que não há zonas de refúgio para navios rebocadores dentro das comportas, não havendo margem de erro (de várias ordens, desde logo humano); que a tracção é insuficiente e que, por isso, a manobrabilidade dos navios é comprometida nas condições mais habituais no Panamá (em condições amenas há segurança).
A ITF refere que avançou para a realização do estudo devido “à recusa da Autoridade do Canal do Panamá (ACP) em encetar conversações sobre matérias como a formação, assim como as questões técnicas e de construção que levaram a atrasos no arranque da operação da nova infra-estrutura”.
A ACP já reagiu ao estudo e questionou a sua validade científica, acusando de não ser baseado em modelos matemáticos ou testes reais de navegação. A instituição sublinha que está a levar a cabo todos os estudos no centro de simulações, que defende ser o mais avançado da região, baseados em modelos matemáticos e actualizado com simulações físicas com navios à escala e tráfegos reais nas eclusas actuais.
“Na apresentação do estudo da ITF, representantes da FHM mostraram uma animação da eclusa com apenas dois navios rebocadores, o que é uma premissa incorrecta, pois no canal expandido serão usados até quatro navios rebocadores”, salienta a ACP, que garante estar preparada.
“Gostaria de poder anunciar que o estudo deu luz verde às novas eclusas. Infelizmente, não posso”, disse, na apresentação do estudo, na Cidade do Panamá, o secretário-geral da ITF, Steve Cotton. “Pelo contrário, temos um cenário em que aqueles que trabalham ou passam pelo canal estão em risco”, acrescentou.
“Acreditamos que este é um tema em que há pontos comuns com armadores, seguradoras e outros na indústria marítima, por isso, procuraremos encetar negociações para discutir a melhoria de estratégias nesta área crucial e, além disso, poder fazer uma actualização às simulações para que estas abranjam novas alternativas de manobrabilidade em cooperação com a ACP e outros representantes do sector do transporte marítimo”, referiu Steve Cotton.
As alianças G6 e CKHYE já anunciaram que vão alinhar navios entre 6 500 e 10 000 TEU nos serviços Ásia-Costa Leste dos Estados Unidos através do novo Canal do Panamá.