O setor dos transportes e logística enfrentou, nos últimos anos, uma intensa transformação, ampliada por acontecimentos marcantes como a pandemia de covid-19, a saída do Reino Unido da União Europeia, as guerras na Ucrânia e em Gaza, ou a guerra comercial entre os EUA e a China. Estas perturbações, juntamente com desafios como a digitalização acelerada, a pressão pela sustentabilidade, a escassez de mão-de-obra qualificada e a instabilidade geopolítica moldaram o cenário global também em 2024, exigindo uma grande capacidade de adaptação e inovação das empresas do setor.
De acordo com o estudo Global Connectedness Tracker 2024 da DHL, divulgado em março de 2024, a globalização atingiu um máximo histórico em 2022 e manteve-se próxima desse nível em 2023. O crescimento dos fluxos internacionais está a acompanhar e, em alguns casos, a exceder o crescimento da atividade nacional. Os fluxos de comércio, de capital, de informação e de pessoas entre países têm-se revelado muito resistentes às crises recentes. O crescimento acelerado do comércio eletrónico reforçou esta tendência, destacando a necessidade de espaços logísticos modernos, tecnologicamente avançados e sustentáveis. Segundo este estudo, em 2023, 21% do valor de todos os bens e serviços produzidos foram comercializados a nível internacional.
Já segundo o relatório Industry Trends: Transportation and Logistics, de setembro de 2024, o setor de transportes e logística deverá crescer globalmente cerca de 3,8% em 2024 e 4% em 2025. Em Portugal, o setor logístico teve um crescimento expressivo de 31% em 2024, impulsionado pela modernização das infraestruturas e pela procura de soluções mais sustentáveis.
A transição digital consolidou-se como um elemento crucial para a evolução do setor dos transportes e logística. Tecnologias como a automação, a Internet das Coisas (IoT) e especialmente a Inteligência Artificial generativa transformaram processos como a gestão de armazéns, a otimização de rotas e o planeamento da distribuição. Além disso, as plataformas digitais e a análise de dados têm sido ferramentas indispensáveis para a tomada de decisões estratégicas, aumentando a eficiência operacional e a capacidade de resposta a um mercado em constante mudança.
Portugal e os desafios do setor do transporte expresso
O setor do transporte expresso desempenha um papel vital na economia portuguesa, uma vez que possibilita que as nossas empresas e produtos cheguem rapidamente a qualquer parte do mundo. Para além disso, é um importante gerador de emprego, empregando diretamente milhares de pessoas em todo o país. O crescimento do comércio eletrónico, que depende fortemente dos serviços expresso, tem impulsionado ainda mais a importância deste setor. Em 2024, o comércio eletrónico cresceu cerca de 8,8% e espera-se que continue a crescer a um ritmo acelerado nos próximos anos.
Nos dias de hoje, o setor do transporte expresso enfrenta desafios e oportunidades únicas. A modernização da infraestrutura logística e o cumprimento de regulamentação ambiental mais exigente destacam-se entre as prioridades. No entanto, a escassez de mão-de-obra qualificada, incluindo motoristas e especialistas em tecnologia, continua a ser uma preocupação. O crescimento do comércio eletrónico, por outro lado, oferece uma oportunidade única para inovação e expansão, impulsionando a procura por soluções logísticas mais ágeis e sustentáveis.
…o setor do transporte expresso enfrenta desafios e oportunidades únicas. A modernização da infraestrutura logística e o cumprimento de regulamentação ambiental mais exigente destacam-se entre as prioridades.
Os operadores de transporte expresso enfrentam ainda desafios específicos, como a logística urbana em áreas densamente ocupadas ou, em contraste, a eficiência operacional em zonas remotas. Atualmente a sustentabilidade ocupa um lugar central na agenda, com a necessidade de reduzir a pegada de carbono e adotar práticas sustentáveis ao longo de toda a cadeia de valor. A aceleração da transição energética, tanto das infraestruturas como das frotas, com investimentos em veículos elétricos e em combustíveis sustentáveis, é fundamental, mas requerem suporte regulatório e incentivos económicos adequados.
A APOE – Associação Portuguesa de Operadores Expresso está comprometida com o fortalecimento do setor do transporte expresso em Portugal, apoiando-se em três pilares estratégicos: inovação, sustentabilidade e qualificação. Apostar em tecnologias emergentes, como a automação e a Inteligência Artificial generativa, é essencial para garantir competitividade no mercado. Além disso, promover práticas sustentáveis — através da transição para energias limpas e soluções logísticas verdes — reflete o nosso compromisso com um futuro mais ecológico. Por fim, a formação e capacitação de profissionais desempenham um papel vital para assegurar que o setor tenha condições de adotar e gerir estas transformações tecnológicas. 2025 será um ano decisivo, as perspetivas apontam para a consolidação de tendências como a digitalização e a sustentabilidade, com ênfase na resiliência operacional.
Num modelo económico que se baseia na internacionalização, como é o caso de Portugal, a APOE, e, acima de tudo, os seus associados desempenham um papel crucial como conectores entre os agentes económicos portugueses e os mercados internacionais. Neste contexto, o diálogo com entidades governamentais e reguladoras, nomeadamente através de uma relação frutífera e colaborativa que desejamos continuar a manter com a Autoridade Tributária e Aduaneira, é essencial para o fortalecimento do comércio internacional transfronteiriço e, consequentemente, para os consumidores finais. Considero que o reforço deste diálogo, o investimento contínuo em tecnologia e a transição energética serão determinantes para o sucesso do setor.
Num mundo cada vez mais imprevisível, a capacidade de adaptação e a procura constante por soluções inovadoras serão a chave para um futuro próspero e resiliente. Com união e determinação, o setor de transportes e logística em Portugal tem a oportunidade de transformar desafios em oportunidades, contribuindo para uma economia mais forte e uma sociedade mais desenvolvida e sustentável.