O ano de 2024 continuou a ser marcado por grandes desafios para a economia mundial e, consequentemente, para a economia europeia, incluindo a portuguesa, tendo em conta o seu grau de abertura ao exterior.
A instabilidade política – no início do ano em Portugal e, mais no final de 2024, nos nossos principais parceiros comerciais, ou ainda, os resultados das eleições americanas – bem como as tensões geoestratégicas, dominadas por conflitos militares no Médio Oriente e na Ucrânia e pelas ameaças das políticas comerciais protecionistas, contam-se entre os principais riscos à atividade económica.
Apesar de um cenário de recuperação pós-pandemia, assistimos a um crescimento económico mundial muito moderado, onde as fortes tensões comerciais entre três grandes blocos económicos, Estados Unidos da América, China e Europa, continuaram a influenciar o mercado global.
Na Zona Euro, a economia cresceu ainda mais modestamente, em resultado de vários fatores, com destaque para a queda da procura industrial nas principais economias europeias, designadamente na Alemanha e França.
O abrandamento económico na Europa e o enfraquecimento do crescimento da produtividade têm levando a uma persistente perda de competitividade face aos Estados Unidos da América e à China.
Se a Europa não conseguir resolver, de uma vez por todas, os problemas colocados por uma regulamentação inconsistente e restritiva, que colocam dificuldades às empresas que desejam crescer na Europa, e não conseguir tornar-se mais produtiva, terá de reduzir as suas ambições, nomeadamente em matéria de modelo social.
A indústria europeia enfrenta enormes dificuldades, com elevados custos relativos e uma feroz concorrência global, sobretudo oriunda da Ásia. Hoje, os países asiáticos inovam em vez de imitar, impondo desafios acrescidos a uma Europa que ambiciona uma estratégia industrial forte, como defende Draghi no seu relatório sobre a competitividade estratégica da Europa, onde identifica três áreas principais de ação para relançar o crescimento sustentável na Europa: 1ª Reorientar os seus esforços para colmatar o défice de inovação com os EUA e a China, especialmente em tecnologias avançadas; 2ª Plano conjunto para a descarbonização e competitividade; 3ª Aumentar a segurança e reduzir as dependências.
Tudo isto impacta em todos os setores de atividade económica e no dos transportes e logística em particular, com redobrados desafios entre equilíbrio da sustentabilidade e da eficiência operacional.
As regulações ambientais mais rígidas continuarão a influenciar a necessidade de investimentos em transportes e logística de baixo carbono, isto é, mais verdes, impulsionando, por exemplo, a adoção de frotas elétricas e combustíveis alternativos.
Para além da questão da descarbonização e sustentabilidade, os conflitos geopolíticos a nível global continuarão a impactar nas rotas comerciais, pelo que a atividade de transportes e logística continua a enfrentar o risco da instabilidade das cadeias de fornecimento. A importância de aumentar a segurança e reduzir a dependência da Europa de outros mercados passa por garantir cadeias de abastecimento de matérias-primas, produtos e tecnologias-chave, abrindo-se aqui diversas oportunidades. No âmbito da tendência de encurtamento das cadeias de valor globais, Portugal reúne uma combinação de fatores que o tornam um óbvio candidato a estratégias de nearshoring na Europa, tanto ao nível comercial como de investimento.
A transição digital é outro grande desafio, onde a automação, o uso de inteligência artificial e blockchain continuarão em expansão por forma a otimizar processos logísticos, exigindo elevados investimentos.
Tal como a economia em geral, também os transportes e logística enfrentam as consequências da dinâmica demográfica adversa, com impactos na disponibilidade de profissionais qualificados nesta área.
Por tudo isto, precisamos de uma Europa forte, célere na decisão e na defesa de condições favoráveis a uma economia atrativa e competitiva.
Se a Europa não conseguir resolver, de uma vez por todas, os problemas colocados por uma regulamentação inconsistente e restritiva, que colocam dificuldades às empresas que desejam crescer na Europa, e não conseguir tornar-se mais produtiva, terá de reduzir as suas ambições, nomeadamente em matéria de modelo social.
Em termos de perspetivas, embora com o realismo necessário, é preciso olhar para 2025 com otimismo e determinação, por forma a vencer todos os obstáculos e, simultaneamente, aproveitar todas as oportunidades que se venham a colocar.
A atividade de transportes e logística continuará a assumir um papel de destaque no caminho do crescimento e desenvolvimento económico sustentado e sustentável, tendo em conta a importância do contínuo reforço do grau de internacionalização da economia portuguesa, com vista a elevar a nossa intensidade exportadora para patamares próximos dos registados por países de dimensão semelhante a Portugal, desejavelmente para, pelo menos, 60% até 2030, como a AEP defende.
Estou confiante de que a atividade de transportes e logística vai vencer os inúmeros desafios e saberá aproveitar as múltiplas oportunidades que se abrem no futuro próximo e mais longínquo.