A MAIS Madeira Air vai deixar de realizar os voos de cargueiros entre Lisboa e os Açores a partir do próximo dia 31 , avançou ao TRANSPORTES & NEGÓCIOS o líder da empresa, António Beirão.
Lançado em finais de 2018, o serviço da MAIS Madeira Air (operado com uma aeronave da Swiftair) liga Lisboa a São Miguel e à ilha Terceira três vezes por semana (já foram quatro). Termina depois de “um investimento superior a um milhão e meio de euros”, sem perspectivas de viabilidade, por falta de apoio do Governo Regional, adianta o empresário.
O problema é o desequilíbrio que persiste nos volumes transportados à partida do continente (“cerca de oito toneladas) e no regresso dos Açores (“apenas cerca de 1,5 toneladas)”, que torna a operação deficitária. “Andamos a transportar ar à partida dos Açores; as receitas não chegam para o combustível”, queixa-se António Beirão.
Numa tentativa de ultrapassar as dificuldades, foi tentado com o Governo Regional dos Açores um protocolo semelhante ao firmado na Madeira, para a promoção da região e dos seus produtos. As negociações “arrastaram-se por dois anos” – lembra -, mas foram bem sucedidas… quase: “acertámos os os pormenores, mas continuamos sem a assinatura do Governo”.
Uma parceria com a SATA foi também tentada, mas os resultados comerciais são o que se vê…
No ano passado, o avião cargueiro para os Açores transportou 1 550 toneladas: 1 300 de cá para lá, 250 toneladas de lá para cá.
Entre Lisboa e os Açores o avião da MAIS Madeira Air carrega sobretudo “correio, encomendas de e-commerce (trabalhamos com todos os operadores) e medicamentos (talvez representem mais de 50% do negócio)”, elenca António Beirão. No sentido inverso, a pouca carga resume-se a “correio, peixe e, mais recentemente, ananás”, acrescenta.
Se a suspensão das operações estancará as perdas da operadora aérea, acarretará, outrossim, prejuízos para os Açores, sustenta António Beirão. “A região voltará a sentir o atraso na recepção das suas compras e uma
redução clara na capacidade disponível para o aumento da exportação dos
produtos regionais’’.
Em particular, a ilha Terceira “onde se preparava a construção de um hub para a exportação de produtos das ilhas ocidentais, e que recebeu de forma muito aberta e positiva a operação do voo cargueiro, sentirá ainda mais a falta do avião’’, sublinha.
Mas não só. A retirada da capacidade da MAIS Madeira Air “não será facilmente substituída pelos outros operadores, o que poderá resultar em mais carga a ficar em terra e numa subida de preços”.
A decisão de suspender os voos está tomada., mas António Beirão não descarta uma mudança de posição, assim o Governo Regional e as instituições empresariais da região se empenhem “numa solução que viabilize o projecto”.
“Em 2015/2016 – recorda António Beirão – o Governo da República lançou um concurso para uma ligação de avião cargueiro para os Açores, que previa um apoio de 3,3 milhões de euros por ano…”