Manuel Tão critica desinvestimento na rede nacional

A redução de passageiros no transporte ferroviário em Portugal “não tem paralelo na Europa”, onde “até redes como a da Grécia apresentam aumento de passageiros”, defendeu Manuel Margarido Tão. A culpa é da falta de investimento no sector, acrescentou.

O investigador da Faculdade de Economia da Universidade do Algarve, que falou numa audição pública parlamentar promovida pelo Partido Ecologista ”Os Verdes” (PEV), criticou a falta de investimento no sector em Portugal e apresentou dados que, segundo ele, mostram que, entre 1989 e 2009, o transporte ferroviário de passageiros baixou 42% em Portugal.

Para comparar o investimento nos últimos anos na construção de autoestradas, em detrimento do investimento no sector ferroviário, Manuel Margarido Tão indicou que a densidade da rede ferroviária a nível nacional é de 31 metros de linha por quilómetro quadrado (km2), um valor abaixo da média europeia, que se situa nos 47 metros de linha/km2.

Contudo, na densidade da rede de autoestradas Portugal está bem acima da média da UE, com 176 metros de autoestrada por cada 1 000 habitantes, contra 138 metros/1 000 habitantes na UE, realçou.

P U B L I C I D A D E

O especialista apontou ainda o desinvestimento no sector ferroviário como um factor de aumento da dependência energética e de agravamento dos custos externos no sector dos transportes, e defendeu a urgência de um plano ferroviário para o País – lembrando que o ainda vigente data de 1927.

“O sector rodoviário é imparável quanto a emissões de CO2, o mesmo acontecendo com os gases de efeito de estufa. Quando isto for taxado, vamos ter um problema complicado. Vai aumentar o custo das importações” deixando a economia em Portugal em desvantagem, avisou.

Na apresentação que fez durante a sessão, o especialista defendeu igualmente a criação de “um novo paradigma de mobilidade para as pessoas, num espaço nacional mas de fronteiras abertas, fazendo do transporte ferroviário o factor primordial de integração de mercados”, aliviando a dependência energética do país. Caso contrário, “vamos fazer uma inversão apenas numa situação de rotura”, estimou.

P U B L I C I D A D E

Neste plano ferroviário o urgente para Portugal, Manuel Tão insistiu na necessidade do conceito de rede, defendendo que não basta acrescentar troços ou linhas, sendo necessário integrar “trajectos de natureza distinta, mas que trabalham em sinergia”.

Este plano deveria ter, de acordo com as directrizes expostas, linhas ou troços vocacionados para a integração nacional (ligando as áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto e os sistemas urbanos do Algarve, Baixo Mondego e Minho entre si). Igualmente haveria linhas ou troços de linha vocacionados para a integração regional, dando como exemplo os “restos de sistemas de via métrica em serviço – Aveiro/Águeda/Albergaria/Espinho – ou com tráfego suspenso (Régua/Vila Real) que precisam de ser modernizados”. Haveria igualmente linhas ou troços de linha vocacionados para a integração transfronteiriça e ibérica (o caso do troço Pocinho/Barca de Alva), para a integração transeuropeia (o Lisboa-Madrid), para garantir a valência colectora/distribuidora à rede transeuropeia e para garantir o serviço do “hinterland” portuário atlântico.