Portugal tem, reconhecidamente, um sistema portuário moderno e competitivo, mau grado algumas debilidades no que respeita ao funcionamento dos serviços públicos que eternamente lutam com a insuficiência de recursos humanos.
E não só: como se compreende que Sines seja uma delegação da Alfândega de Setúbal enquanto Peniche e Alverca têm alfandegas próprias?
Contudo, quando comparamos o peso dos serviços portuários na economia azul da União Europeia verificamos que Portugal está claramente em desvantagem, como se depreende das tabelas seguintes.
EMPREGO
VAB
Fonte: EU “Blue Economy Report 2022”
Estas tabelas mostram que as atividades portuárias em Portugal têm uma quota de 1,8% em termos de emprego e 6,3% em termos de VAB, contra uma média da UE de 8,6% e 15,2%, respetivamente, isto apesar de alguns Estados Membros nem sequer terem portos.
A razão, claro está, é a fraca expressão da atividade logística nos nossos portos (port-centric logistics), a começar por Sines, o nosso maior porto. A Zona de Atividades Logísticas de Sines (ZAL Sines) continua deserta, vinte anos após a inauguração do Terminal XXI.
Não há razão aparente para que Portugal não siga o exemplo de Singapura. É esse o desígnio que presidiu à criação da A4S – Associação 4Shipping,
Para olhar em frente, é útil perceber como estão organizados os países marítimos mais bem-sucedidos. Singapura é uma boa referência porque se trata de uma pequena Cidade-Estado, com 6 milhões de habitantes, que lidera o ranking das praças marítimas internacionais, segundo a Menon Economics.
É fácil reconhecer que o sucesso de Singapura resulta da criação de um ecossistema, Maritime Singapore, que reúne todas as valências da atividade marítimo-portuária em torno de três eixos: Portos, Shipping e Serviços Marítimos.
Não há razão aparente para que Portugal não siga o exemplo de Singapura. É esse o desígnio que presidiu à criação da A4S – Associação 4Shipping, uma associação privada, sem fins lucrativos, aberta a cidadãos e a entidades públicas e privadas, com a missão de criar e promover internacionalmente a marca “Maritime Portugal”, conjugando políticas públicas e iniciativa privada.
Em boa hora, o Ministério da Economia e do Mar constituiu um grupo de trabalho para dinamizar a economia do mar. Esse grupo tem 8 eixos, sendo a Associação 4Shipping responsável pelo Eixo 6: “Shipping, Serviços Marítimos e Praça Financeira do Mar”. Presentemente, aguarda-se a resposta do MEM às várias propostas apresentadas.
Paralelamente, o projeto Maritime Portugal está a ser divulgado junto de entidades públicas e privadas. Nesse sentido, a Academia de Marinha aceitou organizar uma conferência no dia 17 de outubro subordinada ao tema “Maritime Portugal” (ver https://academia.marinha.pt/pt/Paginas/programasessoes.aspx). Esta conferência, aberta a todos os interessados, constitui uma excelente oportunidade para promover o projeto junto de decisores e outros constituintes da economia do mar. Fica aqui o convite aos leitores do TRANSPORTES & NEGÓCIOS.
JORGE D’ ALMEIDA
A4S – Associação 4Shipping
E a geografia? A nossa é muito interessante mas não é comparável, não só no que respeita à física como, sobretudo, o contexto geopolítico envolvente que favoreceu o único ambiente «ocidental» naquela zona… Mas podemos fazer algumas coisas, parte delas muito simples e sem necessidade de montar cenários globais (provavelmente, hoje não há ZAL que se veja porque, quando se quis avançar, o Estado entendeu que devia haver uma rede nacional e, por isso, não avançou esta nem as restantes…) e sem apregoar qualidades que não temos.