Farto de esperar pela definição do novo modelo de gestão dos portos, Matos Fernandes renunciou ao cargo de presidente da APDL. O ministro da Economia valoriza a autonomia e a boa gestão de Leixões.
Matos Fernandes formalizou a demissão ontem, quinta-feira, em carta enviada ao ministro da Economia. Numa nota escrita a que o TRANSPORTES & NEGÓCIOS teve acesso, o gestor sustenta que “a ambição de Leixões não é compatível com a indefinição de mandatos, e a minha saída, voluntária, tem como objectivo garantir a nomeação de um novo Conselho de Administração a 21 de Maio” (data da assembleia geral da APDL).
Matos Fernandes diz-se ainda profundamente preocupado com a “ausência de decisões nas restantes empresas do sector” e lembra que, no caso de Leixões, “o accionista [Estado] tem ainda um mês para a ponderar”.
O mandato do actual Conselho de Administração da APDL – que além de Matos Fernandes integra Brogueira Dias e Amadeu Rocha (estes dois quadros da empresa) – terminou já no final de 2010. A mudança de Governo entretanto ocorrida e a vontade assumida de mexer no modelo de governance do sector fizeram prolongar o exercício de funções até agora.
A piorar a situação de indefinição, e ao que o TRANSPORTES & NEGÓCIOS logrou apurar, está o facto de a tutela há muito não falar com o CA da APDL, nomeadamente a propósito, precisamente, do desenho do modelo de gestão portuária que se pretenderá implementar.
Recorde-se que desde há vários anos que o porto de Viana do Castelo passou a ser detido pelo Porto de Leixões (e o da Figueira da Foz pelo de Aveiro), com o Conselho de Administração da APDL a acumular as mesmas funções na APVC.
Matos Fernandes entrou para a Administração de Leixões por convite expresso da então secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino, sua amiga pessoal. Sucedeu na presidência a Ricardo Fonseca, quando aquele foi chamado pelo Executivo socialista para assumir a liderança da Metro do Porto. E aí se manteve até agora, ou até ao final de Maio, quando terá efeito o pedido de demissão ontem apresentado.
Antes de ir para a APDL, Matos Fernandes era um dos rostos da Quaternaire, empresa de consultoria, tendo estado envolvido na elaboração do Plano de Desenvolvimento Estratégico de Leixões.
Apesar dos bons resultados alcançados pelo Porto de Leixões nos últimos anos, a permanência de Matos Fernandes na liderança da APDL era por muitos considerada improvável, independentemente do modelo de governance do sector que vier a ser adoptado. Nomeadamente por causa da sua pública condição de militante socialista.
Confrontando com o anúncio da saída do presidente da APDL, o ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, agradeceu-lhe “o trabalho que realizou nos últimos tempos” e garantiu que no novo modelo portuário que está a ser trabalhado com a “troika” serão valorizados “a autonomia e boa gestão” de Leixões.
No ano passado, o Porto de Leixões atingiu um recorde de movimentação de cargas e a APDL um recorde de lucros (10,3 milhões de euros). A tendência de crescimento das cargas manteve-se, e até acelerou, nos dois primeiros meses de 2012.
A APDL tem em curso a construção do terminal de cruzeiros e continua a trabalhar na implantação da plataforma logística portuária. O Plano Estratégico de Transportes prevê para Leixões a criação de um novo terminal de contentores.