Pedro Polónio
Presidente da Direcção da ANTRAM
É impossível falar sobre como foi, no ano de 2021, e como será no ano de 2022 o transporte rodoviário de mercadorias sem nos referimos à Covid e ao gasóleo. Estes foram, e são ainda, se bem que no curto prazo, as duas principais linhas orientadoras do nosso sector.
Por um lado, temos a doença que, em 2021, continuou a gerar grandes disrupções nas cadeias de produção e obrigou a uma constante readaptação dos fluxos, com incontáveis acelerações e travagens de produções, o que trouxe inegáveis perdas de produtividade, pois nenhuma empresa consegue optimizar uma frota de viaturas quando a mesma é alvo de constantes cancelamentos de cargas, alterações de fluxos, variações diárias ou semanais do número de cargas.
Todos percebemos que, com pragmatismo, com informação e de uma forma séria e sensata, foi possível quebrar alguns dogmas e levar os clientes a entenderem a necessidade de revisão do custo dos serviços de transporte.
Por outro lado, os transportadores rodoviários sofreram uma constante pressão do custo com aquisição de combustíveis durante todo o ano, com especial destaque para o segundo semestre onde os preços atingiram valores comparáveis ao período de 2012-2014.
Estas duas realidades traduziram-se em severas perdas para as empresas de transporte, que se viram a braços com prejuízos elevados no ano de 2021.
Houve, porém, algo positivo. Pela primeira vez desde há muito tempo, os transportadores viram-se forçados a lutar pela sua sobrevivência de uma forma mais aguerrida, dada a ameaça de prejuízos muito elevados e, de forma súbita, começou-se a registar uma subida dos preços de transporte que, apesar de mais modesta do que o aumento de custos suportados (porque não foi apenas o gasóleo a subir, como é do conhecimento geral), mostrou existir margem para ajustar os preços de transporte, muitos deles imutáveis há mais de 10 anos.
Este é um ponto importante a considerar. Todos percebemos que, com pragmatismo, com informação e de uma forma séria e sensata, foi possível quebrar alguns dogmas e levar os clientes a entenderem a necessidade de revisão do custo dos serviços de transporte.
Mas 2022 não tem ajudado. Efectivamente, em Janeiro, contrariamente ao esperado, verificou-se um acentuar do aumento dos custos com o combustível, o suspeito do costume, a que se veio juntar o não menos relevante aumento dos custos com pessoal, cujos vencimentos sofreram subidas de 6%.
Temos, pois, o sector perigosamente afectado e com as margens de negócio completamente destruídas, restando-nos esperar que parte deste problema possa aliviar a muito breve prazo sob pena de escalarmos para níveis incomportáveis para as empresas transportadoras, com inevitáveis repercussões no que ao preço dos serviços diz respeito.
Por esta razão, não podemos ter por certo, bem pelo contrário, que os aumentos recentemente ocorridos nos preços dos fretes se fiquem por aqui, tanto mais que o contexto, para lá do nível elevado de custos, também induz o aumento dos preços.
Efectivamente, assistimos por toda a Europa a uma evidente escassez da capacidade de transporte instalada. Quer porque na sua base está um inesperado aumento do consumo, quer porque na sua base está um problema estrutural de falta de motoristas, quer porque na sua base está a introdução de novas políticas legislativas como o pacote rodoviário. Por uma, por outra ou por todas, transportar ganhou valor e há que perceber esse fenómeno, aceitá-lo mas, ainda assim, procurar agir sobre ele por forma a amenizar os seus efeitos.
É aqui que procuro introduzir uma ideia que ainda não vi, na prática, naquilo que é o dia-a-dia de quem fala com clientes, armazéns, operadores de tráfego, motoristas, transitários, entre outros, ganhar um grande número de praticantes.
A sustentabilidade de um sector, para seu próprio bem e em prol da sua longevidade, não se pode fazer apenas na base do aumento dos preços. Essa fórmula pode – e frequentemente assim sucede – trazer efeitos muito adversos e abrir lugar a concorrentes que nem seriam os concorrentes naturais de um mercado.
É, pois, na minha opinião, necessário fazer-se um esforço conjunto, que reúna transportadores, clientes, operadores logísticos, grandes carregadores, transitários, governos, no sentido de melhorarmos a produtividade das empresas transportadoras.
Na verdade, é preciso fazer mais com menos. E esse fazer mais com menos não virá, pelo menos nos próximos 15 anos, de fazer mais transportes com camiões autónomos ou movidos a electricidade. Paremos de falar apenas nisso e concentremo-nos em falar do que depende de nós.
Um transportador produtivo é aquele que, com respeito pela legislação dos tempos de condução e repouso, consegue fazer o máximo de transportes possível em idêntico período de tempo. Para tal, importa que todos os stakeholders envolvidos nas tarefas a montante e jusante de um transporte lhe facilitem o acesso a essa produtividade, seja no correcto agendamento das horas de carga e descarga, seja na priorização do carregamento e descarregamento das viaturas (não pode ser normal que um camião esteja parado e não seja descarregado porque o armazém tem pouco pessoal afecto a descargas!), seja na redução substancial dos tempos de espera, seja na disponibilização de melhores condições nas estradas para que a paragem dos camiões seja feita em segurança.
Temos que olhar para todos estes processos, perceber onde estão os gargalos do sistema, onde é que é preciso “mexer” para aumentar a capacidade do sistema, pois, todos, desde logo quem é servido, serão beneficiados por isso.
Na verdade, é preciso fazer mais com menos. E esse fazer mais com menos não virá, pelo menos nos próximos 15 anos, de fazer mais transportes com camiões autónomos ou movidos a electricidade. Paremos de falar apenas nisso e concentremo-nos em falar do que depende de nós.
Produtividade, no curto e médio prazo passa, bem se vê, por melhorar todos estes processos que diariamente minam a produtividade das empresas transportadoras que, as mais das vezes, sem que nada possam fazer em contrário, se veem reféns das ineficiências de terceiros.
A ANTRAM terá aqui um papel importante de congregar esforços no sentido de alertar outras associações empresariais, sempre sob o ministério do governo recentemente escolhido.
Seria interessante chegar ao final do ano 2022 e perceber que algo se fez a este nível!
Sr Presidente,
Porque não aplicar a indexação do preço dos combustíveis por decreto lei? cada um tem o seu preço, no entanto aplicava a lei!! Permite-nos, no momento dos aumentos, adequar o preço, e não estar a negociar com os clientes, as vezes 1 ou 2 meses para fazer o ajuste. Era a lei, tinha q ser aplicada!
Porque não, dar um prazo de um ano e só admitir licenciar nas empresas viaturas euro6? o que está, está, no entanto, licenciamentos novos só euro 6.
cptos