O ano de 2024 foi um ano globalmente positivo. Foi um ano em que se verificou crescimento económico, com mais estabilidade política em termos nacionais do que se antecipava no início do ano, o que foi muito importante e deve ser relevado.
A nível internacional, fechámos o ano de 2024 com um conjunto de interrogações a nível geopolítico que nos deixa com um potencial de instabilidade maior do que tínhamos há um ano, o que não deixa de revelar que vamos ter um ano desafiante em 2025.
No que diz respeito à ferrovia, há que assinalar algumas evoluções positivas que ocorreram, sinais de que há efetivamente um compromisso a nível político e um objetivo comum de se garantir as condições para que o modo de transporte mais sustentável seja efetivamente competitivo. O governo português deu esses sinais quando limitou a subida da Taxa de Uso a um aumento de 2,9%, quando estava previsto a Taxa de Uso ter um aumento de cerca de 22%. Também deu esse sinal ao aprovar um apoio aos operadores ferroviários para compensar as externalidades positivas que o transporte ferroviário tem, o que permite o reconhecimento da importância do transporte ferroviário para a descarbonização dos transportes e da economia nacionais.
Esperamos ainda que em 2025 seja possível reunir as condições para que a ferrovia não continue a ser prejudicada em termos competitivos face a outros modos de transporte
Mas há ainda muito trabalho a fazer, e nesse sentido é importante haver o foco e a objetividade necessária. O transporte ferroviário tem de ser competitivo para poder ser alternativa para as empresas e para as pessoas.
2025 é um ano de grande expetativa, incertezas a nível internacional e geopolítico, desde a situação política e económica da Alemanha e França, que são críticas para o desempenho económico e social europeus, bem como relativamente ao mandato de Trump nos Estados Unidos e a evolução da guerra na Ucrânia, posicionamento face à Rússia e à China, Médio Oriente. Vai ser um ano complexo, sem dúvida, e que vai exigir da Europa firmeza e um alinhamento muito grandes.
Já a nível nacional e, mais concretamente, no que diz respeito à ferrovia, teremos importantes conquistas em termos nacionais, como, por exemplo, a conclusão anunciada de grandes obras do Ferrovia 2020. Poderemos esperar ver finalmente comboios a circular na Linha da Beira Alta e ainda teremos a esperada abertura do Corredor Internacional Sul à circulação, o que serão muito boas notícias para a ferrovia. É importante que ocorram, temos vivido anos de intermináveis obras, é tempo de começar a poder beneficiar destes investimentos.
Esperamos ainda que em 2025 seja possível reunir as condições para que a ferrovia não continue a ser prejudicada em termos competitivos face a outros modos de transporte, porque acabamos sempre surpreendidos por políticas contraditórias, que prejudicam o modo de transporte ferroviário, quando ao mesmo tempo todos os agentes políticos proclamam a defesa da ferrovia em prol de um setor de transportes mais sustentável e descarbonizado. Temos de continuar e ser resilientes no objetivo de promovermos a transição modal e a transição energética.
Dou nota de que a ferrovia precisa de menos taxação, é uma atividade altamente taxada, quando outros modos de transporte não o são. Para além disso, tem desafios grandes de investimento para garantir a sua interoperabilidade, é crítico liberalizar a aquisição de energia, que é um custo extremamente impactante na atividade operacional de um operador ferroviário, e é fundamental compreender que investir em ferrovia exige previsibilidade, previsibilidade de estimativas de procura, de investimento, de custos, de capacidade da infraestrutura, de alternativas no caso de indisponibilidade da própria infraestrutura, o que leva à necessidade de um grande trabalho conjunto com governos, reguladores, gestores de infraestrutura, clientes, fornecedores, trabalhadores, todos com o mesmo propósito.
Uma política de transportes integrada deve procurar promover uma maior intermodalidade e interoperabilidade, permitindo soluções ágeis, flexíveis, que potenciem as infraestruturas existentes, de forma a garantir o melhor serviço possível aos clientes, com a menor pegada ecológica que se conseguir. A ferrovia quer ter um papel cada vez mais relevante neste desafio, temos propostas nesse sentido a apresentar, apenas é necessário que nos deem as condições para que assim seja possível.