Gianluigi Aponte, Charmain do Grupo MSC. Um negociador brilhante. Aproveita-se um contexto geoestratégico complexo (influência chinesa na operação portuária no Canal do Panamá), utiliza-se financiamento dos EUA (fundo de investimento BlackRock, que por sua vez é também ele acionista da TIL – Terminal Investment Limited), realiza-se a maior operação de aquisição de sempre a nível portuário e, simultaneamente, face à influência política e económica dos EUA, garante-se a aprovação das autoridades de Concorrência a nível internacional. Mais um golpe de mestre.
Depois de se ter assumido como líder incontestado a nível dos Operadores Marítimos de Carga Contentorizada, a MSC, através da sua subsidiária TIL, empresa do grupo vocacionada para a Operação Portuária, pode assumir agora o lugar de maior Operador Portuário Mundial.
Esta situação surge na sequência do princípio de acordo para a aquisição de 80% da participação internacional do Operador Portuário Hutchison Ports, sedeado em Hong Kong, pelo consórcio estabelecido entre a BlackRock (a gestora de ativos com a maior carteira de infraestruturas dos EUA) e a TIL.
Operação Portuária da Hutchison Ports

Referimos propositadamente que a Hutchison Ports está em processo de negociação para a alienação de 80% da sua participação em 43 portos à escala mundial, pois tem sido difundida generalizadamente pela comunicação social a mensagem que este processo de aquisição foi imposto pela nova Administração Trump, com sucessivas ameaças de que poderá intervir no Canal do Panamá para salvaguardar a neutralidade estratégica da região.
Cada vez mais é um fator crítico de sucesso no mercado da operação portuária a conexão do Operador Portuário a um grande Operador Marítimo, e a Hutchison Ports poderia ter a sua competitividade futura em risco.
Na verdade, o acordo, avaliado em aproximadamente 22,8 mil milhões de dólares, inclui a aquisição de 90% da Panama Ports Company, responsável pela operação portuária dos portos de Balboa e Cristóbal, localizados nas entradas do Canal do Panamá da Costa do Pacífico e da Costa Atlântica, mas de igual forma envolve mais 41 portos e 199 terminais a nível mundial.
Na nossa opinião está-se a sobrevalorizar os aspetos a nível de geoestratégia global em detrimento dos aspetos meramente comerciais. Na verdade, antes deste acontecimento, já a Hutchison Ports ascultava o mercado para avaliar a possibilidade de alienação desta participação.
Cada vez mais é um fator crítico de sucesso no mercado da operação portuária a conexão do Operador Portuário a um grande Operador Marítimo, e a Hutchison Ports poderia ter a sua competitividade futura em risco. Mais, nos últimos anos o crescimento da Hutchison Ports era meramente orgânico e vinha a verificar-se um desinvestimento na área da operação portuária (apenas representa 10% da faturação do Grupo, cada vez mais voltado para a área das telecomunicações, distribuição e retalho).
Os operadores marítimos cada vez mais procuram integrar a área da operação portuária na sua estratégia de integração vertical da cadeia de abastecimento. Por exemplo, a COSCO Shipping está intimamente associada à China Merchants Ports e à China COSCO Shipping. O mesmo é aplicável à APM Terminals (terceiro maior operador portuário a nível mundial), que é propriedade da Maersk Line. A CMA CGM (operador marítimo), assume-se igualmente como o 8.º operador portuário mundial.
A TIL (Terminal Investment Limited), propriedade da MSC, que ocupava a “modesta” 6.ª posição na operação portuária a nível mundial, com um volume de 51 milhões de TEU movimentados, com a aquisição da Hutchison Ports pode vir a assumir também o papel de líder mundial da operação portuária, mesmo assumindo a exclusão do negócio dos terminais Asiáticos da Hutchison Ports.
Não deixa de ser paradoxal que o processo de concentração horizontal/vertical seja transversal a toda a cadeia de abastecimento. À semelhança dos operadores marítimos, o mercado da operação portuária aproxima-se cada vez mais de um autêntico oligopólio. Uma operação de mercado que tradicionalmente seria alvo de muito escrutínio por parte das Autoridades Reguladoras, torna-se possível e viável face ao complexo contexto geoestratégico.
Professor da ENIDH