Os 80 moradores do edifício Destilaria Residence, junto ao Cais do Cavaco, em Vila Nova de Gaia, estão “frontalmente contra” a construção do terminal de cruzeiros fluviais da APDL.
Em comunicado enviado à “Lusa”, o grupo de moradores explica que “esta oposição deve-se ao reduzido envolvimento da sociedade civil ao longo de todo o processo” e refere que a consulta pública, cujo prazo termina hoje, é “um mero pró-forma”.
“Não se encontra, em nenhum documento disponibilizado na consulta pública, nenhuma razão que sustente a necessidade de um projecto desta envergadura e neste local específico. Os argumentos utilizados, meramente económicos, levam-nos a interpretar que este projecto é mais um passo dos operadores em privatizar o rio Douro”, refere o morador Paulo Leal, citado no comunicado.
O grupo diz recear que o rio Douro esteja a ser transformado num parque temático, “afogado num turismo de massas descontrolado, assente numa procura de maximizar os lucros de terceiros sem considerar as preocupações das associações ambientais e da população local”.
“Basta olharmos para exemplos de cidades europeias, como Veneza, que está a recuar neste tipo de actividade para percebermos que há limites a este crescimento”, sublinha Paulo Leal.
Segundo o resumo não técnico do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) do projecto, o edifício do terminal “de planta rectangular, apresenta 180 m [metros] de comprimento e 27 m de largura” e “dispõe de dois pisos, apresentando altura de 10 m, e a sua área de implantação é de 4.825 m2 [metros quadrados]”.
Além dos navios-hotel, a infra-estrurura fluvial também contempla “a instalação de um pequeno núcleo de recreio náutico com capacidade para cerca de cinco dezenas de embarcações de recreio”.
Mas os moradores criticam esta opção, falando em “despreocupação com o rio Douro e com a qualidade da sua água e ecossistemas”, algo que dizem ser “visível nas projecções para o crescimento turístico na Via Navegável do Douro”.
“A APDL estima que em 2035 exista uma frota de 37 navios-hotel no Douro e um total de 125 500 passageiros anuais. Aumentos de 48% e 26% face aos números mais recentes, respectivamente”, lê-se no comunicado do grupo de moradores. “A preservação das condições únicas do Douro é do interesse do país e do município”, acrescentam.
O grupo acusa, ainda, a APDL de ter “falhado” por não ter apresentado cálculos e medidas de minimização dos riscos de derrame de combustíveis.
Lembrando que “vários académicos e especialistas têm levantado preocupações”, o grupo conta que já reuniu com a APDL, mas que esta “remeteu tudo para o processo de consulta pública”.
“E mostrou pouca preocupação com o bem-estar dos gaienses que aqui vivem todos os dias, mostrando valorizar mais um crescimento turístico descontrolado de pessoas que vêm cá uma vez e nunca mais voltam”, reitera José Filipe Mesquita, outro dos moradores.
Usando expressões como “estrutura megalómana”, os moradores também consideram que o projecto contribui para “desvirtuar de forma irreversível o património geomorfológico, ambiental, histórico e cultural” numa zona classificada como Património Mundial da Humanidade.
No comunicado divulgado hoje, os moradores mostram-se “revoltados pela escassa consideração pelos impactos negativos nas suas vidas, nas suas famílias e no seu dia a dia” e exigem “uma verdadeira discussão pública, estudos mais aprofundados e um maior escrutínio no processo de tomada de decisão”.
O projecto do terminal de cruzeiros fluviais no Douro, da autoria de Álvaro Siza Vieira, prevê a construção sobre estacaria de um edifício para a instalação dos serviços de apoio ao embarque e desembarque de passageiros, e de um cais com 340 metros de comprimento (o suficiente para acomodar em simultâneo embarcações de 80 metros ), fundos de -3 metros e uma largura de dez metros.