O espaço geográfico em que vivemos está a passar por um processo de transformação profundo decorrente de acontecimentos na União Europeia nos últimos anos.
Saber interpretar o que se está a passar na Europa e no mundo vai ser um fator fundamental para as economias poderem dotar-se de capacidade para enfrentarem um futuro exigente e, neste momento, imprevisível.
Entre 2014 e 2016, a União Europeia foi confrontada com uma série de eventos que demonstraram a sua pouca capacidade para, em conjunto, encontrar soluções adequadas aos desafios que tinha pela frente: em 2014 a invasão da Crimeia pela Federação Russa, em 2016 a vitória do denominado “Brexit” e a crise dos refugiados.
O modelo de desenvolvimento da União Europeia, embora sendo um sucesso, estava a ser testado por uma sucessão de eventos para os quais a União não tinha capacidade de resolver nem de se defender. Muito embora os sinais fossem evidentes há muitos anos, ninguém lhes deu a devida importância.
A pandemia Covid 19 veio acelerar de uma forma brusca toda a nossa forma de viver, tornando a vida em sociedade ainda mais imprevisível.
O processo de confinamento das populações a nível quase mundial acarretou uma série de transformações: a redução drástica do funcionamento da economia mundial e da produção de bens, a disrupção do processo logístico a nível mundial, aumento muito substancial dos preços de transportes e aumento de desemprego.
As sociedades tiveram de se adaptar a viver em confinamento introduzindo novas formas de funcionamento pela simplificação de processos, onde o desenvolvimento tecnológico teve um papel fundamental.
O caso português do processo de vacinação Covid 19 é um excelente exemplo da adaptação que foi necessária efetuar. Os sistemas de informação das organizações da área da saúde não forneciam a informação necessária e suficiente para se poder organizar um processo equilibrado e rápido. A solução passou por desenvolver aplicações que, depois de encontradas as novas variáveis, foram adicionadas às plataformas de gestão de informação existentes, tornando-as mais robustas e mais adaptadas à situação real.
Reduzir o risco da atividade das organizações e preparar as mesmas para o novo mundo será um investimento fundamental nos próximos anos
Ou seja, a procura das novas variáveis a ter em consideração para podermos ter um plano de vacinação com sucesso partiu de pessoas com capacidade, experiência e saber que, num trabalho incessante, se focaram num objetivo que tinha sido traçado pelos governos em Portugal. Muito embora não fizessem parte da estrutura da área da saúde. Mas sempre a trabalhar em equipa com todas essas estruturas.
Este problema da imprevisibilidade na vida das nossas sociedades aumentou ainda mais com a Guerra da Ucrânia a que temos assistido. O aumento generalizado do custo de vida, assim como o aumento de risco de insegurança está a trazer para as nossas vidas um grau de imprevisibilidade a que não estamos habituados na Europa.
Como vão os governos, empresas, organizações não governamentais e muitas outras instituições saber o que fazer num novo mundo mais imprevisível e menos seguro, e onde, por vezes, é necessário agir com rapidez?
Serão as pessoas com experientes carreiras internacionais em locais onde a imprevisibilidade predomina que poderão ajudar muito estas entidades a preparar o seu futuro, porque essas pessoas conseguem percecionar o risco mais rapidamente e apresentar caminhos e soluções de forma também mais rápida.
Reduzir o risco da atividade das organizações e preparar as mesmas para o novo mundo será um investimento fundamental nos próximos anos, o melhor investimento de todos.
A imprevisibilidade chegou. E temos de estar preparados para ela porque vai passar a fazer parte das nossas vidas mais regularmente.
PEDRO MONJARDINO
Diretor Geral da Strategio Consulting
Ex Coordenador do Processo de Vacinação Covid 19 do Governo Regional dos Açores